Marcelo Barros 15 de dezembro de 2017

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Nessa semana, exatamente, no 10 de dezembro, a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU completou 69 anos. Ao festejar esse aniversário, podemos comemorar que a luta pelos direitos humanos continua firme e muitos desses direitos estão incluídos nas leis e constituições nacionais. De 1948 para este começo de século, a ONU se firmou como interlocutora de muitos conflitos internacionais. Apesar de que ainda se deixam dominar pelos governos mais poderosos do mundo, a ONU e seus organismos internacionais têm colaborado para o diálogo e a paz entre os povos.  Atualmente, na assembleia geral das Nações Unidas, representantes de organizações indígenas e consultores da sociedade civil têm tido voz e vez. Por todo o mundo, se multiplicam organismos internacionais como o Tribunal Internacional de Justiça e várias organizações que trabalham pela consolidação dos direitos humanos individuais e também coletivos (direitos dos povos, das nações indígenas e das diversas culturas).

Apesar desses progressos, não podemos deixar de observar problemas gravíssimos. Tantos anos depois da Declaração dos Direitos Humanos, assinada em 1948 por 190 países, afirmar que todo ser humano tem direito de migrar e de morar em qualquer rincão do planeta Terra, as nações ricas constroem muralhas sempre mais discriminatórias e odiosas. As mercadorias circulam de um continente a outro. As pessoas que tentam passar as fronteiras de um país a outro são presas e punidas. Em nome da segurança nacional, vários governos se sentem com o direito de desnudar pessoas em aeroportos e expor os passageiros ao risco de radiações até hoje não controladas em aparelhos para detectar metais. Nove países detêm bombas nucleares que, a qualquer momento, podem destruir a humanidade e a própria vida no planeta

A sociedade civil tem reagido a esses problemas e tem se organizado internacionalmente. No mundo inteiro, se fortalece o movimento para se criar uma ONU não só de governos, mas da sociedade civil internacional. Aqui e ali se instauram fóruns que pedem uma Constituição internacional da humanidade. Essa lei universal deve definir uma ética comum, a partir da qual os povos possam construir um mundo mais solidário e as pessoas se sentirem todas cidadãs não apenas de um território ou de um país e sim do mundo irmanado pela justiça e pela paz.

Um dos movimentos mais importantes é a luta pacífica pela defesa dos bens considerados como “bens comuns da humanidade” e mesmo do universo. Desses, no Brasil e em outras partes do mundo, os movimentos sociais têm priorizado três bens que todos nós devemos defender: a água, as sementes e o conhecimento. A sociedade capitalista faz de tudo para transformá-los em mercadorias que se vendem e se compram, como querem fazer com a própria vida e até mesmo o ser humano. Cada dia, a parte mais consciente da sociedade civil insiste:  A água é direito universal de todo ser vivo e não pode ser privatizada nem mercantilizada. As sementes pertencem à Mãe-Terra e ao patrimônio do povo que habita em cada bioma. O conhecimento é um dom divino no ser humano que tem de ser vivido como meio para melhorar a vida, fortalecer as relações e tornar o planeta mais saudável. Não para ser instrumento de controle das empresas sobre as pessoas.

Defender essas conquistas sociais é dever de toda pessoa, mas principalmente de quem vive o compromisso social como caminho de comunhão íntima com Deus. As grandes tradições espirituais têm se proposto a renovar nas pessoas a esperança de que essas conquistas são justas, necessárias e possíveis.

Em cada mês de dezembro, as Igrejas cristãs preparam o Natal de Jesus celebrando o que chamam “tempo do Advento”. Nesses dias, os textos bíblicos e os cânticos litúrgicos convidam as comunidades a vigiarem na expectativa da vinda do Senhor. Concretamente, isso significa manter-se de olhos abertos e mentes vigilantes para interpretar a realidade em que vivemos e descobrir como transformá-la. Na carta aos cristãos de Roma, o apóstolo Paulo escreve: “É preciso compreendermos melhor o tempo em que vivemos. Agora, estamos mais próximos da salvação do que quando abraçamos a fé” (Cf. Rm 13, 11).

Obs: O autor é monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares.
É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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