Frei Adolfo Temme 1 de dezembro de 2017

Alfredo era Franciscano de uns 55 anos, quando um dia teve um sonho revelador:
Ele se encontrava numa casa de dois andares que ainda possuía um sótão. Era neste lugar mais alto e mais escondido que apareceu um desconhecido que portava um lindo quadro bem emoldurado, onde o meio não tinha nenhuma figura. O portador disse ao sonhador: Vamos descer! – Desceram a escada do segundo andar e depois do primeiro. Chegando no térreo, Alfredo pensou: Agora vamos ao quintal. Mas não. De repente aparece uma escada que vai a um porão, desconhecido para ele. Depois de descer, encontram um santuário, onde o quadro é depositado. Com isto o sonhador acorda, cheio de um santo temor.

Até então Alfredo tinha vivido uma fase de vencedor, como alguém que não tem medo da crise. O sonho o convidava a repensar sua vida, mas porque tanto enigma? Ele contou ao irmão dele o que tinha visto, e este subiu a escada de mansinho.

No sótão tem um quadro sem figura que já tem uma moldura preciosa. Só pode ser a imagem que o Criador vive a pintar: o seu rosto verdadeiro que ainda não se revela, precioso aos olhos de Deus. O quadro está no lugar errado: pois o ponto mais alto da casa indica para o cérebro que não tem talento de pintor.

O enviado noturno diz: Vamos descer. A escada do alto sugere a força do Julgar que é nosso orgulho. Não é aqui que o portador descansa. Vamos descer.  A escada para o térreo é a força do Agir que nos parece a razão do viver. Alfredo se dispõe para sair ao trabalho no quintal. Mas que surpresa: Como é que o dono da casa podia desconhecer a escada para o porão? Ele segue o enviado e descobre um santuário instalado em sua casa, ainda esperando pelo objeto a ser venerado. O quadro é depositado para ser revelado na CÂMARA ESCURA.

Esta câmara é conhecida pelos velhos fotógrafos que passavam o NEGATIVO em bacias de várias substâncias até que o rosto fosse descoberto em seus contornos. O fotógrafo sente alegria ao reconhecer o sorriso do Antonio ou da Maria. E o portador calado está ansioso por ver o verdadeiro rosto do Alfredo. Ainda ia demorar 20 anos para completar a obra desta revelação. No seu rosto apareceram traços de fragilidade que não deu para apagar. Mas foi exatamente aí que se revelaram as semelhanças com Aquele que desceu até as profundezas.
Teresina, dia 26 de out de 2017  

Obs: O autor é  Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrólis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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