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Homem hipermoderno: a expressão, que define o ser humano contemporâneo, é da socióloga francesa Claudine Haroche.

Se formos analisar, os modos de pensar, agir e sentir dessa época em que vivemos passam por notáveis transformações. Realmente, os modelos e conceitos norteadores da nossa forma de pensar caem em descrédito. O conjunto de normas e os sistemas de valores orientadores até então da nossa forma de agir, quase não são utilizados. E os guias comportamentais e os ritos sociais tornaram-se praticamente sem valor algum.

Passeando um pouco pela história vamos ver que entre os séculos XVI e XVII o modelo comportamental baseava-se no autodomínio de si mesmo para, só aí, então, alguém passar a exercer um certo poder sobre os outros. O autocontrole e a contenção eram a tônica dos manuais sociais. Já no século XVIII iniciou-se um processo baseado na reivindicação e no reconhecimento, quando então as condutas eram pautadas na consideração, no respeito, na reputação, na honra, na dignidade e no mérito. Todos entrelaçados com claras regras de polidez, etiqueta e cortesia. Um momento social histórico de suma importância, pois aqui, não por acaso, surgiam a Revolução Francesa e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Tendo como constante a fluidez, as sociedades contemporâneas passam por contínuas transformações que tanto alteram as personalidades individuais de cada um, quanto muda a forma das relações entre os indivíduos. Com a informalidade comandando as relações – informalidade essa propiciada principalmente pelo surgimento de novas ferramentas de comunicação, derivadas da rede mundial de computadores – as distâncias são suprimidas e as hierarquias são eliminadas, resultando numa horizontalização das relações. O cimento dessa horizontalização é formado pela desinstitucionalização, pelo desencantamento e pela ascensão da insignificância. E o reboco não poderia ter outra composição, que não o isolamento e a massificação do indivíduo, a instabilidade do sujeito e a inconsistência do eu.

Assim, sob os efeitos da desenfreada aceleração e da globalização, as maneiras de sentir, no sentido duplo do termo, sofrem transformações tanto com relação ao tempo, quanto com ao espaço. É só você analisar se os atuais vínculos sociais que criamos não têm apenas um caráter transitório e fugaz. Com as fronteiras entre os mundos real e virtual esmilinguidas, o que brota em profusão são apenas eus instáveis e efêmeros.

Como o anseio primevo do homem é o reconhecimento de si pelos que o rodeiam, a visibilidade acaba virando a grande vilã, pois, mesmo sendo o fator chave da legitimização, ela nos torna peças de intercâmbio, disponíveis para instrumentalização por si mesmo ou pelos outros. Como consequência, sobram o estreitamento da consciência e o empobrecimento do espaço interior, causados pela exteriorização do ser humano.

Por fim, o engajamento, fator central nos jogos de poder e dominação passa ao largo, resultando em mais e mais alienação e humilhação. O que sobra nesse declínio social é uma cultura individualista nas sociedades de consumo que, como retroprojeção, produz as contradições, finos alimentos da violência desse vilão/salvador que criamos e alimentamos servilmente: o capitalismo contemporâneo.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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