Maurício Cavalheiro 1 de dezembro de 2017

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Você ama mesmo? Tem certeza disso? Mas ama de que maneira? “Que seja infinito enquanto dure”? Que dure por toda a eternidade? Ou, sei lá até quando?
Ao dizer que amamos, nos tornamos responsáveis pela pessoa que amamos. Por isso, para não ferir, para não causar danos irreparáveis, é preciso ter convicção ao declarar que sentimos o mais nobre dos sentimentos. Infelizmente, cada vez mais, essas três palavras são usadas com intenções ardilosas para capturar, usar e descartar.
Não nego que já tive experiências amargas, inexplicáveis, doídas demais. Quem não as teve? Entre elas, vivi um relacionamento intenso e harmonioso, regido por afinidades. Nossos lábios se encontravam com a mesma ternura, com a mesma necessidade de quem caminhou desertos e encontrou o oásis. Nossos corpos insaciáveis eram provas irrefutáveis de que o eterno e verdadeiro amor nasce quando o contato físico toca a alma. Porém…
Esse porém, até hoje não consegui decifrar. Certa noite, ela veio ao meu encontro e anunciou o adeus. Fiquei atônito, transtornado. Insisti para que me revelasse o motivo. Recebi apenas um abraço demorado e apertado. Choramos muito. Ela me olhou, disse que me amava, mas que não podíamos ficar juntos; e foi embora sem que eu soubesse o porquê. Que loucura! Quem ama não abandona! Não a julguei e até hoje não a julgo, pois desconheço o motivo. Não tenho dúvida de que um dia o saberei. Só não sei se o entenderei. Mas isso pouco importará. O coração é um cemitério de amores onde alguns foram enterrados vivos.
Sofri. Sofri muito. Mas, apesar das inúmeras armadilhas derivadas de escolhas, também fui muito feliz. Durante onze anos vivi o verdadeiro amor. Amor intenso, sem disfarces, sem segundas intenções.
Seduzido por aqueles olhos dóceis, não hesitei em levá-la para morar comigo. A partir daquele dia, passei a contar os minutos para chegar em casa, pois, depois do trabalho estafante, ela me recebia com festa e removia todos os meus estresses. Eu a recompensava nos fins de semana, com seu passeio preferido: ir ao campo para correr. Às vezes, corríamos juntos, mas eu jamais a vencia. Como protesto pelas derrotas, eu a agarrava e rolávamos na grama, quais dois adolescentes. A felicidade é um pote cheio de simplicidade. Porém…
A vida está cheia de conjunções adversativas! Porém, um câncer agressivo rompeu nossos laços terrenos. Restaram-me o retrato na parede e essa saudade doída. Saudade de uma fidelidade indestrutível. Saudade de Pietra, minha querida cachorrinha dálmata.

Obs: O autor é membro da Academia Pindamonhagabense de Letras é autor de: Lágrimas de Amor – poesia; O sapinho jogador de futebol – infantil; O estuprador de velhinhas & outros casos – contos; Histórias de uma índia puri – infanto-juvenil; O casamento do Conde Fá com a Princesa do Norte, e Um caso de amor na Parada Vovó Laurinda – cordéis.

Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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