Duas fragilidades me perturbam a alma: idosos e crianças.
Não tem jeito, eles têm todo o meu respeito.
De vez em quando pego um livro que tenho de retratos de crianças do êxodo (do artista Sebastião Salgado). Incansavelmente já analisei as expressões de diversas carinhas.
São frágeis criaturas, emocionalmente vulneráveis. Não compreendem as guerras e vivem no meio delas, assustadas, sem saber o motivo pelo qual são atacadas, expulsas de suas casas. Inocentes num mundo que ao meu ver é um mundo doente.
Expressões inseguras de quem não vislumbra nenhum momento de felicidade, quanto mais um destino e um futuro dignos.
Em cada olhar a tristeza e o sofrimento.
Não importa de onde são… do Zaire, Hong Kong, Sudão, centro de São Paulo, Sertão…?
Os olhares machucam qualquer coração.
Roupas achadas até em lixão, curtas rasgadas, imundas, apertadas….
Olhares opacos, sem o brilho da esperança… Que será meu Deus, dessas crianças?
Quando penso nos cuidados que temos com nossos filhos, penso nelas, naquelas crianças sem destino…
Uma foto próxima a um muro marcado por balas… e a tristeza de uma criança que ao mundo se cala…
Crianças refugiadas, feridas friamente. O corpo ferido poderá ter cura, mas a alma jamais esquecerá tamanha tortura.
Abandonadas às vezes sem nem saber dos pais. Um sorriso em seus lábios seria pedir demais.
É uma realidade terrível que daria um texto medonho, por isso deixo apenas esse registro desses olhares tão tristonhos.
Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
http://pertodecasa.rec.br/
Imagem enviada pela autora.