Ina Melo 15 de novembro de 2017

[email protected]
http://www.blogdeinamlo.blogspot.com.br/
http://meloina.blogspot.com.br/
http://www.inamelo.blogspot.com.br/

(“não tentes viver para sempre,não conseguirás”(Bernard Shaw)

Ao longe gaivotas sobrevoam o mar. É um dia morno de julho. O sol, esparramando-se sobre a areia saúda a sua eterna princesa – Copacabana, que neste início de século comemora 100 anos. Caminho pelo famoso calçadão, palco de tantos acontecimentos. É uma pena que eu não tenha feito parte dessa geração que nasceu e viveu aqui. Para mim, que sou uma visitante ocasional, o Rio como Paris, é sempre uma festa. Amo esta cidade. Faz trinta anos que aqui estive pela primeira vez. Naquele tempo, o turista tinha como cartão postal, além das belezas naturais, esta faixa de areia branca e luminosa que tanto inspirou os poetas. Revisito o Rio. Volto sempre. E agora, sentada num dos seus bares, paro e medito. Antes era um fervilhar de gente, crianças, jovens, velhos indo e vindo com expressões alegres e descontraídas. A diferença no espaço tempo que a globalização tanto fala, me faz ver que muita coisa mudou. Este pedaço de terra e mar está hoje mais triste, abandonado, quase solitário. Estou só no espaçoso bar. Os garçons, com ares cansados, as mesas cobertas de toalhas gastas, mostram a decadência do lugar. Procuro à minha volta alguém para falar sobre este bairro tão admirado por todo mundo e nada, ninguém. Continuo com as minhas divagações. Ao sair do hotel, encontrei muitos velhos sentados, olhos parados no tempo, silenciosos, pareciam dormir. Penso: por que as leis obrigam a uma aposentadoria por idade? Deixar de trabalhar, deveria ser a opção de cada um, desde que tivessem saúde, com a pequena remuneração oferecida pela Assistência Social, é difícil sobreviver. Quem quisesse continuaria a exercer suas funções. Seria uma contribuição para os jovens. A troca de experiências só iria beneficiá-los. Haveria maior respeito pelos idosos. Infelizmente, a situação é outra e eles são vistos como ultrapassados. A juventude interior não muda nunca. Ela permanece intacta no ser: a capacidade de amar, de ajudar e de pensar cresce com o tempo. Só o corpo se degrada. Na juventude estamos muito ocupados com a família, preparando os filhos para o mundo. Então eles crescem e alçam vôos e aí nos perguntamos o que fazer da vida? Revendo esta bela praia e observando os passageiros do tempo, reencontro apenas a outra mulher que vive em mim. Ela continua a mesma: romântica, sonhadora, otimista com o seu país, fazendo planos e tendo esperanças nas mudanças que um dia farão melhorar a qualidade de vida de milhões de brasileiros. Dialogamos: Hoje ultrapassamos a faixa dos cinqüenta e sinto que está um pouco desiludida. Questiono: por quê? – ela também interroga: o que é a vida quando o fantasma da velhice se aproxima? E a solidão: é boa ou ruim? Será que somos nós que fazemos assim? Rimos e eu lhe pergunto: qual a saudade que você tem neste momento? Que fato lhe marcou nesta cidade? Ela, de olhos fechados, vai arrancando do coração, lembranças de uma aventura – louca aventura, que vivenciou há trinta anos. Eu a deixo falar e ela, com um intenso brilho no olhar, faces coradas, conta: o hotel era esse tradicional aqui ao lado. Viera para uma reunião de trabalho, um Congresso qualquer – não lembra mais, com participantes de mundo inteiro. Discutiam sociólogos, médicos e outros a condição social dos brasileiros. O seu trabalho como pesquisadora era o de entrevistar pessoas ali no calçadão e levar os subsídios para serem analisados e discutidos nas mesas redondas. No último dia, foi convidada por um dos participantes para saírem. Aceitou, e depois de um jantar regado a champanhe foram dançar na “boite” do hotel, vivendo uma intensa e bela noite de amor, e que amor – não o eterno, mas aquele chamado de contingente, que vive o momento, não tem passado, nem futuro, apenas o instante repleto de emoções. Percebe o que aconteceu, quando acorda vestida numa bela camisa azul transparente, cheirando a homem. Que saudades! Abraçamo-nos sorrindo, eu e a amiga, ambas marcadas pelo tempo e pelas lembranças, felizes e realizadas. Convido-a para uma solitária taça de champanhe onde comemoraremos os amores fugidios.(3rd August 2012)

Obs: Imagem enviada pela autora. 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]