15 de novembro de 2017
- O tema da redação do ENEM/2017 (“Desafiospara a formação educacional de surdos no Brasil”), fala de um grande desafio para a Educação. O IBGE diz que 9,7 milhões declaram deficiência auditiva (5,1% da população); 2,1 milhões de pessoas tem deficiência auditiva severa; destas, 344,2 mil são surdas e 1,7 milhão têm grande dificuldade de ouvir. Além disso, há uma verdadeira fábrica de surdos pela poluição sonora nas ruas e nos ambientes de trabalho.
- O desafio fundamental é a aplicação de princípios consagrados na Constituição: todos são iguais perante a lei e educação é um direito do cidadão e um dever do Estado. Ou seja, neste País, é vedado tratar qualquer pessoa como “cidadão de segunda categoria”; ao contrário, é garantido a todas elas a universalidade de uma Educação adequada e de qualidade. O problema, portanto, não está na compreensão, nem na afirmação de direitos, expressos na letra da lei.
- Porém, dizem os diplomatas, que o demônio mora nos detalhes, para significar que, em tese, há concordância geral, e que o desafio está na regulamentação e concretização de como esses princípios vão à pratica. Se já é difícil proclamar, numa sociedade de classes, o marco jurídico de um Universal Abstrato, torna-se feroz batalha realizar o Universal Concreto. Piora mais quando certos sujeitos de direito não interessam ao mercado e são discriminados pela sociedade.
- O sistema educacional oficial, cada dia, se esmera em preparar força de trabalho apta para o mercado e, salvo belíssimas exceções, não pensa na realização do potencial do ser humano, como sujeito e como povo. Pensa na capacitação da mão de obra e propõe uma formação padronizada que não considera diferenças, ritmos, deficiências, cultura… O desafio é conquistar um Estado que tenha entendimento e vontade política para incluir todos os seus cidadãos.
- Se o atual Estado não prioriza as classes subalternizadas, menos lugar ainda terão os setores discriminados. Conhecendo a maioria das escolas é fácil afirmar que a concepção e equipamentos funcionam como empecilho. Por isso, um desafio é pensar a formação em um modelo de escola com educadores e educandos preparados para entender e incluir os deficientes auditivos. Isso exige habilidades, metodologias adequadas e recursos pedagógicos suficientes.
- Um terceiro desafio está na sociedade envolvente. O povo, em geral, assume e reproduz o preconceito contra os surdos, inclusive a família. Será preciso um intenso processo de sensibilização para acolher os deficientes (que apenas não ouvem) e junto, a cobrar dos governos pela adoção de políticas públicas que facilitem a aquisição de tecnologias já disponíveis. Parte considerável da solução desse desafio está na consciência solidaria da sociedade envolvente.
- A deficiência não pode ser vista como um destino nem um fardo da existência. Como suas raízes nascem de muitos fatores, a superação dos desafios brota de um conjunto de medidas. Mas, um fator determinante na formação da pessoa surda é o cultivo de sua autoestima. O processo de formação deve despertar nela tanto a dignidade de não se fazer de vítima, como de não aceitar ser tratada como tal. Seu valor está em desenvolver seu potencial e afirmar-se como sujeito.7 de novembro, 2017
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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