Djanira Silva 15 de novembro de 2017

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Pensei em contratar um motorista. Quando dei a notícia na hora do almoço, foi um Deus nos acuda. Ninguém concordou comigo. Foi então que percebi o quanto meus filhos eram unidos – todos contra mim. Vieram os argumentos. Falaram da responsabilidade de ter e manter um estranho dentro de casa, de arcar com os encargos sociais, etc., etc. Em poucos instantes a ideia e o motorista foram pro brejo.

Continuei a me utilizar dos táxis convencida de que para mim era bem melhor sair de casa de manhã com um homem e voltar à noite com outro.

E por falar neste assunto lembrei de tempos idos quando meu pai tinha carro e motorista à nossa disposição. Naquela época, coitado dele, pensava que podia me controlar. Ainda lembro da raiva que eu sentia quando ele me obrigava a sair de casa com aquele cão de guarda me vigiando cumprindo as ordens mais do que atrasadas porque o que de lazer já havia feito. Eu, uma moça velha, de vinte e tantos anos, sendo vigiada feito uma jovenzinha adolescente. Driblava a vigilância de seu João, de todo jeito. Muitas vezes o deixei esperando na porta da Escola Normal, enquanto me esbaldava com o namorado na Torre de Londres, restaurante romântico que ficava no centro do Parque Treze de Maio. Bem diziam os antigos, quem vai pra conversa é pai de moça. O meu ia e ainda levava o motorista.

Ter carro, naquela época, era um luxo e despertava inveja. As colegas me olhavam como se eu fosse uma criminosa. Não sabiam o quanto eu detestava não poder andar de ônibus ou de bonde.

Ah! se fosse hoje, eu ia ficar era besta.

Obs: Texto retirado do livro da autora – Doido é quem tem juízo

A autora é poetisa,  escritora contistacronistaensaísta brasileira.

Faz parte da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Recifense de Letras, Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda, Academia Pesqueirense de Letras e Artes , União Brasileira de Escritores – UBE – Seção Pernambuco
Autora dos livros: Em ponto morto (1980); A magia da serra (1996); Maldição do serviço doméstico e outras maldições (1998); A grande saga audaliana (1998); Olho do girassol (1999); Reescrevendo contos de fadas (2001); Memórias do vento (2003); Pecados de areia (2005); Deixe de ser besta (2006); A morte cega (2009). Saudade presa (2014)
Recebeu vários prêmios, entre os quais:

  • Prêmio Gervasio Fioravanti, da Academia Pernambucana de Letras, 1979
  • Prêmio Leda Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, 1981
  • Menção honrosa da Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1990
  • Prêmio Antônio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras, 1998 e 1999
  • Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2000
  • Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2010
  • Prêmio Edmir Domingues da Academia Pernambucana de Letras, 2014
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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