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Ele dizia: “Sou um ser perfeito.
Não tenho empáfia e não sou avaro! ”.
Mas não bania o tolo preconceito
de, à raça negra, nutrir forte enfaro.
Até que um dia, ao se sentir cansado,
deixando o ofício com destino ao lar,
na estrada, viu um corpo atropelado,
parou o carro e foi averiguar.
Alguém gritava: “Por favor, socorra
o moço exangue nos braços da morte!”
Viu que era um negro. Desejou: “Que morra,
que a morte o faça de fiel consorte!”
Duro qual pedra fumou um cigarro,
cuspiu no chão sem ter nenhum respeito
e, caminhando em direção ao carro,
desfaleceu devido à dor no peito.
Ao despertar, sentiu o corpo exposto
sobre uma cama de hospital. Despido,
estava fraco, com calor no rosto;
quis levantar-se, mas fora impedido.
“Não se levante! Fique aí deitado!”
Disse-lhe o médico. “Não se levante!
Seu coração fraqueja, está lesado…
O caso é grave. A cura? Só transplante.”
Anestesiado, dormiu e sonhou
que estava inerte naquela avenida,
tal qual o moço que ele abandonou
sem compaixão a se esvair da vida,
quando o anjo negro num branco cavalo
apareceu, apeou e assim falou:
“Eu te amo tanto, também hás de amá-lo
pois o terás no peito que falhou…”
Dias depois, ao lado de seu leito,
ouviu a voz plangente, enfraquecida:
“Meu filho agora mora no seu peito,
cuide bem dele e tenha longa vida. ”.
Quando ele a olhou, chorou, pediu perdão.
Ela, sorrindo, sem nenhum rancor,
disse: “Jamais esqueça essa lição:
o amor, meu filho, não tem forma ou cor! ”.
Obs: Participo-lhes, com alegria, que o meu poema “Coração Negro” integra a edição Nº 2 da Revista Literária Inversos.
https://revistainversos.blogspot.com.br/2017/11/revista-literaria-inversos-n-2-ja-esta.html?spref=fb
O autor é membro da Academia Pindamonhagabense de Letras é autor de: Lágrimas de Amor – poesia; O sapinho jogador de futebol – infantil; O estuprador de velhinhas & outros casos – contos; Histórias de uma índia puri – infanto-juvenil; O casamento do Conde Fá com a Princesa do Norte, e Um caso de amor na Parada Vovó Laurinda – cordéis.