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Caríssimos:

Irmãos no sacramento da ordem presbiteral e diaconal; irmãos e irmãs no sacramento do batismo; familiares de Dom Newton, religiosas, seminaristas, lideranças comunitarias; autoridades civis e militares.

O Santo evangelho que acabamos de ouvir destaca a auto-revelação de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Jesus se apresenta como guia do novo Êxodo, para conduzir o povo de Deus à casa do Pai. Ele é o mediador da salvação, o revelador e a via que nos conduz ao Pai.

Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim, este versículo nos revela o caráter consolador de Jesus neste discurso de despedida. Pede aos seus discipulos que confiem nele, que retirem de sua vida todo sentimento de tristeza e angústia diante da realidade de sua partida. João usa aqui o verbo “perturbar” referindo-se aos discipulos. É necessário que eles renovem sua adesão de fé na ação de Deus, que está atuando na salvação através da ação de Jesus. A partida eminente de Jesus marca a batalha decisiva contra Satanás e a vitória de Deus sobre o mal. Com a sua morte o chefe deste mundo será expulso, e se os discípulos permanecerem unidos a Jesus pela fé, vencerão o mundo. A fé em Deus coincide com a fé em Jesus, seu enviado, e implica no conhecimento e na pertença ao Pai.

Na casa de meu Pai há muitas moradas. A casa do Pai, aponta para o céu, onde se acredita haver muitas mansões, moradas ou tendas eternas. Jesus refere-se a comunhão de vida com Deus, a união dos discípulos com ele e o Pai, como em uma família, na felicidade eterna do céu. Jesus assume a liderança do novo Êxodo, ele vai preparar um lugar para os discípulos na casa do Pai onde há muitas moradas.

Quando tiver preparado um lugar, voltará e levará os seus discípulos, para que eles estejam onde Ele está. O objetivo, portanto, da partida de Jesus consiste na comunhão de vida com o Cristo glorioso. Jesus entrou no santuário celeste com a sua morte sacrificial, acesso concedido também para os seus discípulos.

A glorificação dos discípulos de Jesus está associada à vida divina de Jesus, inserido na família do Pai; o corpo de Cristo ressuscitado é o novo templo, a casa do Pai, o lugar de comunhão de vida com o Pai e o Filho de Deus.

E para onde eu vou, vós conheceis o caminho. Jesus supera a realidade de lugar  para a de caminho. Uma linguagem misteriosa e obscura para os discípulos. Daí a pergunta de Tomé: “Senhor, nós não sabemos para onde vais, como podemos saber o caminho?.” Um mal-entendido, que oferece a Jesus a oportunidade de esclarecer o significado de sua palavra enigmática. Tomé ama as coisas concretas. A palavra caminho indica uma estrada para viajar a algum lugar; mas Jesus estava se referindo a Ele mesmo como mediador para guiar a criatura humana para o Pai.

Eu sou o caminho, a verdade e a vida. É a revelação central desse texto. Jesus se proclama o caminho, isto é, o único mediador para se chegar ao Pai, como vem explicado no versículo seguinte: “Ninguém vai ao Pai senão por mim “. O paralelismo é perfeito. O acento, a ênfase recai sobre a expressão “Eu sou o caminho.” Não se pode encontrar Deus e viver em comunhão com Ele, senão por meio de Jesus, que dá a sua vida para a salvação do mundo. As afirmações “a verdade e a vida” são valiosas: Jesus é a vida, o mediador para o Pai, porque é a revelação total, a epifania de seu amor salvífico, e comunica a todos nós a própria vida do Pai, que está em completa comunhão. Isso significa que Jesus é a antecipação dos bens escatológicos, ou seja, a participação na vida divina para aqueles que se juntam a Ele. Portanto, Jesus é a “verdade” personificada porque é a completa revelação do Pai, é vida porque ele se dá a nós através de sua palavra. Palavra e fé em João são frequentemente associados com a verdade e a vida.

O significado da declaração de Jesus é: Eu sou o caminho, porque sou a verdade e, também, a vida. “Jesus não é apenas o revelador do Pai aos seres humanos, mas é ele mesmo a plenitude desta revelação; Ele é, na sua pessoa, a revelação por excelência, total e definitiva. Por esta razão, Ele é o único caminho que conduz ao Pai, enquanto em sua pessoa torna-se manifesta a nós a grandeza da revelação, ou seja, a íntima comunhão entre o Pai e o Filho, no coração da vida trinitária. Por isto é o caminho para o Pai, porque comunicando a verdade, esta “verdade”, nos faz participar da vida do Pai. Através da encarnação, a Palavra tornou-se verdade. Jesus é o caminho para o Pai, como mediador desse conhecimento, que é ordenado para a mediação de comunhão; Jesus é a Verdade para poder nos conceder a vida.

A segunda leitura nos revela a tarefa confiada a Timóteo de ser o fiel testemunho de Jesus e do evangelho. Uma tarefa tão difícil tem uma recompensa especial, a vida eterna.

Timóteo é exortado a guardar o mandamento, que pode ser a lei geral da aliança exigida de todos nós. Combate o bom combate.

Com estas palavras, que se tornaram o lema episcopal do já saudoso 4º Bispo de Crato, Dom Newton Holanda Gurgel, convido a todos para render graças a Deus pela vida deste sucessor dos apóstolos, que durante sua longa vida de sacerdote e bispo prestou serviços unicamente a esta Igreja Particular de Crato. Dom Newton viveu intensamente o significado das palavras do seu lema episcopal, com seriedade, com alegria e o bom humor que o caracterizavam.

Era um homem dotado de grande simplicidade… É, pois, com grande pesar e sob forte emoção, que estamos todos aqui para rezar, agradecer e prestar esta última homenagem ao quarto pastor diocesano de Crato.

A celebração de um funeral, geralmente, é carregada de pesar e saudades. Isso é bem compreensível, pois somos humanos e sentimos a dor pela partida de um irmão e amigo. Até Nosso Senhor Jesus Cristo chorou quando soube da morte do seu amigo Lázaro.

No entanto, ao lado do nosso pesar, conforta-nos recordar que, durante sua longa vida, viveu seu ministério sacerdotal com amor, seriedade e responsabilidade, dentro de uma simplicidade serena e uma paciência exemplar.

No exercício do seu múnus sempre se comportou como um bom pastor: aquele que conhecia suas ovelhas e suas ovelhas o conhecia. Sempre agiu consciente do seu dever e viveu em comunhão de caridade com todos. Ao longo de sua vida sacerdotal e, principalmente, como bispo manteve sempre respeito e obediência aos seus superiores. Sempre compenetrado, disciplinado, nunca feriu qualquer semelhante, nunca faltou com a caridade a quem quer que fosse. Era extremamente responsável nas suas atribuições.

Por outro lado, vale a reflexão, é sempre oportuno recordar que a vida – para quem crê em Cristo Jesus – não se perde com a morte. Jesus é a ressurreição e a vida! E quem nele crê, ainda que esteja morto, viverá. Ademais, a Palavra de Deus ilumina e nos conforta ante ao mistério da morte. Com São Paulo aprendemos que, estando com Cristo, nossa vida está assegurada por Jesus. “Se morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele”, conclui São Paulo.

Por isso, decorridas algumas horas do trânsito de Dom Newton para os umbrais insondáveis da eternidade, estamos aqui para encomendar a Deus, que é Pai de Misericórdia, a alma deste bispo fiel, pedindo ao Senhor que conceda a paz a quem o serviu tão intensa e generosamente.

Registramos, também, a nossa homenagem de gratidão a Dom Newton. Espontaneamente trazemos ao coração a memória de todo bem e de tantos acontecimentos da sua vida que marcaram fortemente a história desta Diocese de Crato.

Nos últimos anos de sua existência, como bispo-emérito, animava-o a Palavra de Cristo – “Eu venci o mundo; estarei convosco”. Animou-o também a certeza de que o Espírito Santo, prometido e enviado por Jesus e pelo Pai, jamais abandona aqueles que lhe são fiéis.

Sou-lhe muito grato pela sua cordial e fraterna visita feita a mim, na residência episcopal, dizendo-se devedor da visita que lhe fizera, para na verdade, partilhar comigo sua experiência vivida, suas alegrias e tristezas como pastor desta diocese.

Por fim, devemos recordar que – mesmo aposentado de suas funções episcopais – Dom Newton tinha consciência de que o Bispo, como os Apóstolos, continua a sentir, em seu viver cotidiano, o tesouro das riquezas de seu “apostolado”.

Ano passado, por ocasião de seu natalício, proferiu palavras iluminadas sobre a vida: “A nossa vida não é suficiente para agradecermos o primeiro momento de nossa existência. Tudo é misericórdia de Deus”. Dom Newton o senhor está agora vivendo o segundo momento da sua existência, a vida eterna.

Poucas pessoas se dão conta de que esta Diocese de Crato foi erigida pela decisão de um Santo – São Pio X – que faleceu antes de assinar a bula de criação, cabendo, pois ao seu sucessor – Bento XV – fazê-lo. É por isso, e unicamente por isso, que nossa diocese foi a primeira a ser criada poucos dias após o do pontificado do Papa Bento XV.

Certamente por isso, durante sua existência esta Igreja Particular de Crato teve a grande bênção de contar sempre com bons pastores.

Os quatro primeiros bispos de Crato, todos já falecidos – o sábio e ousado Dom Quintino; Dom Francisco, o homem de Deus; o dinâmico e empreendedor Dom Vicente e o simples, prudente e extremamente organizado Dom Newton, todos eles, por um desígnio da Providência, dormem agora o sono da paz no mesmo lugar, nesta Catedral, à espera da ressurreição final.

Um fato raro na história de uma diocese: ter seus primeiros quatro bispos sepultados no solo sagrado da sua catedral. Certamente outra bênção de Deus para esta Igreja Particular do sul do Ceará.

Por fim, gostaria de dizer que nesta celebração, encomendamos ao amor misericordioso de Deus este nosso irmão, Dom Newton Holanda Gurgel, que foi ornado com tantas graças, dentre elas a do sacerdócio e a do episcopado, ambas utilizadas para o benefício dos fiéis. Com nossas preces e súplicas pedimos que o Senhor, caminho, verdade e vida o acolha em suas moradas, na Jerusalém celeste, ao tempo que apresentamos também a vida exemplar de Dom Newton; as incompreensões tão comuns sofridas por todos aqueles que exercem a árdua tarefa de Bispo. Apresentamos, por fim, os sofrimentos que Dom Newton suportou, o bem que realizou e todo o serviço prestado à Igreja no serviço de Cristo, o Bom Pastor.

Descanse em paz!

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

Homilia de dom Gilberto Pastana na missa de exéquias de dom Newton Holanda Gurgel que emocionou os participantes ,hoje, dia 7 de abril, antes do sepultamento do quarto bispo da diocese de Crato,

Crato, 07 de abril de 2017

Obs: O autor é Bispo Diocesano de Crato

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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