Aldo CB 1 de novembro de 2017

Imagino essas tardes de bolinhos de chuva, jogos de carta e um sol a atravessar as janelas e os cômodos da casa.
Imagino essa luz da tarde a tecer tua juventude, a bordar tuas memórias, a moldar teu sorriso e a acariciar cada fio de teus cabelos.
Imagino a tarde a envelhecer na pele de tua avó como se o tempo ficasse guardado em teu olhar enternecido.
Imagino a luz do sol a emoldurar teu corpo de menina e mulher como se, naqueles instantes, teus seios e entranhas exalassem a inocência de me desejar dentro de ti.
Imagino teu sorriso a atravessar as tardes, a se refazer na face daquela mulher.
Hoje, essa mulher se foi e, no entanto, aquela luz da tarde perdura nos desenhos de tuas mãos como parte de tua essência.
Dentro de ti, aquele olhar, aquela voz e aquela pele bordam tua saudade para comporem o fino tecido do qual se nutre o teu viver.
Eu, distante de ti, atravesso outra tarde e outra luz penetra os recantos vazios de minha casa. Em minha memória, traço um esboço de teu corpo para descansar nos fios de tua inocência.
E imagino aquela mulher a bordar tuas tardes com sabor de bolinhos de chuva.
Imagino aquelas tardes guardadas em tua lembrança como matéria de teus sonhos.
Tudo fenece.

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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