No dia 26 deste mês de novembro, Domingo de Cristo Rei, terá início o ANO NACIONAL DO LAICATO, promovido pela CNBB. Esta iniciativa da Igreja Católica no Brasil vem em boa hora.
Há mais tempo que as atenções pastorais se voltavam, com insistência crescente, para ressaltar a identidade eclesial e a missão dos leigos e leigas. Fruto desta insistência, entre outras iniciativas, podemos assinalar a aprovação, pela CNBB, do documento “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade” cuja leitura e estudo a CNBB recomenda como uma das atividades a serem promovidas ao longo do Ano Nacional do Laicato.
É uma iniciativa, portanto, que maturou lentamente, e agora apresenta consistência pastoral, que dá para perceber na formulação dos seus objetivos claros e incisivos: “Celebrar a presença e a organização dos cristãos leigos e leigas no Brasil”, “Aprofundar a sua identidade, vocação, espiritualidade e missão”, “Testemunhar Jesus Cristo e seu Reino na sociedade”.
Esta consistência de objetivos, que já faz pressentir uma boa acolhida deste Ano Nacional do Laicato, tem uma procedência assinalada por eventos de envergadura histórica que deixaram marcas importantes na caminhada da Igreja em nosso tempo. Vale a pena acenar para alguns deles, pois demonstram, com clareza, o crescente despertar da consciência eclesial dos leigos e leigas em nosso tempo. Eles atestam que este despertar crescente da consciência laical não é mero fenômeno ocasional, mas é expressão de uma realidade mais profunda da Igreja, entendida como “Povo de Deus”, como ressaltou o Concílio Vaticano II.
De modo parecido, como acontece com a superfície do mar, sua temperatura é muitas vezes determinada pelo emergir de correntes submarinas, que têm a força de alterar as condições climáticas de todo o ambiente.
Assim podemos identificar alguns movimentos sísmicos eclesiais, que colocaram em evidência a realidade da presença e da atuação dos leigos na vida da Igreja em nossa época.
O primeiro destes movimentos profundos de caráter eclesial, que teve seu epicentro nos anos que precederam o Concílio Vaticano II, foi a Ação Católica. O Papa que mais encarnou o apareço da Igreja por esta ação articulada dos cristãos na sociedade, foi Pio XI. Ele ficou, de fato, conhecido como “ O Papa da Ação Católica”. Em sua época, antes do Vaticano II, ainda se entendia a atuação dos leigos como sendo decorrência de um “mandato” feito pela hierarquia, que “autorizava” os leigos a fazerem o que seria incumbência nata da hierarquia da Igreja. Ainda não tinha emergido a consciência de que todos somos membros da Igreja, e nossa missão evangelizadora decorre do batismo, não de uma ocasional autorização da hierarquia. Ainda não tinha emergido o grande caudal da visão inclusiva da Igreja, vista pelo Concílio como “Povo de Deus”, que, segundo o Cardeal Doepfner, Arcebispo de Munique, produziu uma “revolução copernicana” na eclesiologia do Vaticano II. Assim como Copérnico evidenciou que não é o sol que gira em torno da terra, mas a terra que gira em torno do sol, assim não é a Igreja que está a serviço da hierarquia, mas a hierarquia que está a serviço da Igreja. Foi ele que propôs introduzir um capítulo especial sobre a Igreja como Povo de Deus, precedendo o capítulo que trata da hierarquia.
É significativo observar que o Domingo de Cristo Rei, como “dia do leigo na Igreja”, é uma herança da Ação Católica, que assim deixou sua “marca registrada” na Igreja de nosso tempo.
Outro movimento que deixou marcas muito positivas, foi o “movimento bíblico”, que reaproximou os católicos da Bíblia. Sem ele não se explica a promissora realidade de hoje, ao constatar o desembaraço com que leigos e leigas convivem com a bíblia.
Por sua vez, o “movimento teológico”, providencial para o Concílio, foi dando consistência teórica à proposta de renovação eclesial, na qual a identificação dos leigos e leigas com a Igreja fica ressaltada.
Em todo o caso, é bem-vindo este “Ano Nacional do Laicato”, que permitirá, certamente, costurar melhor a estreita vinculação existente entre Igreja e “cristãos leigos e leigas”.
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.