Frei Adolfo Temme 1 de novembro de 2017

Havia uma cidade, onde os habitantes eram muito empreendedores e ativos. Sempre diziam EU. Eram muitos sérios e só corriam atrás do dinheiro e do tempo. Quase não enxergavam os vizinhos, a não ser que estes estivessem incomodando. Então ficavam muito zangados.  Possuíam quase tudo. Mas uma coisa lhes faltava: o sorriso. E tudo era muito triste.

Um deles falou para si mesmo: Um mundo assim não é humano. Vou mudar isto. Tirou da gaveta uma coisa de herança, uma moeda de ouro.  Foi para o calçadão e presenteou a moeda para uma criança, sem mais nada, dizendo: “É para você”. A criança olhou admirada e correu muito alegre. O homem pensou: Fiz alguém feliz, e alegrou-se. “Olha o que tenho” disse a criança, e presenteou a moeda para sua mãe. Ela viu como a mãe sorriu e alegrou-se com ela. A mãe, por sua vez, deu a moeda para um homem pobre. E este encontrou outro ainda mais pobre.  Em todo lugar que a moeda chegava, a alegria chegava com ela.

Foi uma convalescença contaminadora que passou no lugar. O quadro da cidade foi mudando aos poucos. A moeda virou expressão do amor e teve uma força transformadora que fez da cidade um lugar de gente feliz.
Karl Tilke      (Tradução e interpretação que segue:   frei Adolfo Temme)

 Esta é uma história pascal, com cativeiro, êxodo e terra nova.
Os habitantes estão numa vida agitada na corrida atrás do lucro.
O Eu se impõe, e o Nós desaparece.
Com as relações cortadas, a pessoa vai sorrir para quem?
A gaiola de luxo, feito pelo trabalho suado, é o cativeiro que construímos.
A cara de tristeza é o grito calado da dor.

Aparece alguém que olha no espelho, com saudade do sorriso.
Tira do armário uma antiga herança: O melhor que tenho recebi como dom.
Lembranças preciosas aparecem no fundo da gaveta:
Nós não fomos feitos para uma vida sem graça.
Memórias remotas ainda conservam seu brilho.
A saudade lhe dá força para sair do cativeiro.
A herança na sua mão é a bússola do seu caminho.
O êxodo da sociedade egoísta acontece pela gratuidade do presente.
A greve contra a luta consumista sai de si e diz: Toma, é seu!
Quem solta a mão já se libertou do regime do Eu.
O doador distribui o melhor que tem: O ouro que brilha nas festas.
O amor tem sucesso garantido, sucesso em cadeia.
O salário do doador é o sorriso de quem é presenteado.
Ele se irradia, pois o ouro não pára na mão de ninguém.

Este doador é Jesus Cristo que nunca disse Eu.
Ele veio para distribuir a herança, tudo que recebeu do Pai.
Inserido neste mundo que desaprendeu a sorrir, ele vive na segurança de uma relação de amor.
Esta moeda se pode dar sem nada perder.
O sorriso que se espalha é a marcha vitoriosa deste Reino da gratuidade que restabelece o Nós.
Quem sabe sorrir, é porque está bem consigo.
Está numa casa boa, construída com segurança, encima da rocha firme do Amor de Deus.

Obs: O autor é  Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrópolis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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