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Abrir o computador e ler o noticiário tem se tornado, a cada dia, um sacrifício sem tamanho. Navegar pelos sites de informação, pelas mídias sociais, tem sido uma daquelas obrigações  que a profissão me exige, mas que já não faço com nenhum prazer. O que antes era uma alegria, hoje é um fardo.

Cura gay, aposentadoria após 49 anos de contribuição, perda de direitos trabalhistas adquiridos, educação deixando de ser prioridade, desemprego em alta, impunidade para os grandes responsáveis pela corrupção nesse país, julgamentos parciais, condenações sem prova e provas sem condenação  e o ódio que vem se alastrando, como um rastilho de pólvora prestes a pegar fogo e explodir tudo.

Sem falar na vergonha que sinto dos colegas jornalistas que se prestam a fazer matérias absurdamente tendenciosas, enganosas, manipuladoras.

E em meio a isso tudo vejo uma massa de manobra alienada, que desconhece a história dolorosa da luta pela liberdade em todos os cantos do mundo. Uns desconhecem, outros fingem não saber e outros conhecem e ignoram porque nunca souberam o que é lutar, dia após dia por sua sobrevivência.

A maioria das pessoas que já nasce rica, com o passado, o presente e o futuro garantidos em termos financeiros, não está preocupada com  a sobrevivência dos outros. Não sabe o que é preocupação financeira, ter ou não dinheiro para a feira, para o aluguel, para o remédio dos filhos ou para pagar as contas. Suas preocupações são outras, em um nível que nós, da classe média para baixo não temos, ou porque está muito acima de nossas possibilidades ou porque nosso conhecimento da vida e da história não nos permite pensar da forma que uma boa parte dos mais ricos e poderosos do mundo pensam.

Não consigo entender, por exemplo, a forma como a administração é exercida no Brasil, com tantos cursos superiores e técnicos no país, seminários, literatura e debates sobre gestão de pessoas. O modelo gestor continua sendo, em boa parte, baseado na relação casa grande e senzala, onde o patrão age como dono de terras e seus diretores e gerentes como feitores e capatazes, tratando os funcionários como propriedade e não como prestadores de serviço, que merecem respeito aos seus direitos e, sobretudo à sua própria pessoa.

Existem patrões que deixam bem claro para os funcionários que está fazendo um favor em lhes dar emprego e que, por isso, devem ser gratos e não reclamar, por exemplo, quando tiverem que fazer hora extra ou trabalhar em final de semana, sem remuneração por isso. Isso é muito comum no setor público em relação aos cargos comissionados, onde não existe a mínima estabilidade. Nesse caso o funcionário pode ser desligado a qualquer momento sem nenhum ônus ou compromisso trabalhista para o empregador. É o modelo de contratação ideal para empregadores e deve ser o sonho da iniciativa privada.

Tanto no setor público quanto privado a relação patrão e empregado ou mesmo entre chefes e os funcionários subordinados a eles, não é lá tão diferente do tempo da senzala. Os feitores ou capatazes de hoje podem não usar o chicote fisicamente, mas usam de outras formas como  em perseguições, assédios morais, tratamentos rudes e grosseiros, exposição de erros e humilhação diante dos outros colegas ou até mesmo a outros setores ou empresa. É  algo mais ou menos assim: seus acertos são nossos acertos, seus erros são só seus.

E o pior de tudo é quando uma pessoa que costumava ser tratada dessa forma por seus chefes é promovida e permite que se instale o veneno da picada da mosca azul. Quando isso acontece aquela pessoa que vinha sendo tratada sem o devido respeito por seus superiores, ao assumir um cargo de chefia passa a achar que agora é tão importante e poderosa quanto os que estão acima na hierarquia e isso transforma o mais pacato cidadão ou cidadã em um déspota, que vai desperdiçar a oportunidade de rever os conceitos de gestão de pessoal em seu local de trabalho, dando continuidade á forma colonialista de administrar.

E assim como funcionam as empresas públicas ou privadas também funciona a gestão do Brasil: incompetente por ser gerida por quem não entende do que está fazendo, onde os critérios para ocupar os cargos importantes é político, é quem indicou e não a competência. Viciada no ganho fácil, em propinas, percentuais absurdos e superfaturamentos, benesses e troca de favores. E, é claro, com toda essa  conta sendo paga por nós, aquelas pessoas que dão duro para a ganhar salário e pagam todos os seus impostos. E, de quem, incrivelmente, estão sendo tirados os direitos conquistados muita lutam suor e sangue.

Essa é a empresa chamada Brasil: inchada, ineficiente, com uma estrutura ultrapassada e que, em lugar de otimizar seu funcionamento, perdoa dívidas bilionárias de sonegadores, corta investimentos e repassa ao seu cliente, a população brasileira, um produto da pior qualidade possível: onde deveria haver segurança há aumento de assassinatos e assaltos; onde deveriam haver estradas e ruas, há buracos; onde deveria haver saúde há hospitais superlotados, faltando de tudo, até mesmo gaze; onde deveria existir educação, existem escolas e universidades sucateadas, com cortes nos orçamentos e crianças, adolescentes e jovens vendo fugir o seu futuro.

E nesse caos em que se transformou o Brasil o tal rastilho de pólvora que falei no começo está se espalhando cada vez mais. Duas coisas progridem nesse país: a corrupção e o ódio. Ambos seguem em frente sem nenhum sinal de contenção.

Enquanto o Brasil vai se desintegrando, as pessoas vão odiando sem saber exatamente por que, como os alemães durante o nazismo, que odiavam os judeus e não sabiam explicar a razão de tanto ódio. Um ódio insano que levou seis milhões de inocentes á morte, entre experiências bizarras e torturas.

A síndrome do ódio tem cura. E não precisa de muito esforço. Basta prestar atenção aos sinais ao redor. E aqui deixo uma proposta: que em lugar do absurdo de propor cura gay, que as pessoas procurem sua própria cura, a cura do ódio. Um ódio que ceifa amizades e relacionamentos familiares, destrói sonhos, esmaga o desenvolvimento do país, abafa a cultura e a educação e mata.

Então que tal, todos juntos, começarmos, a partir de agora, o movimento CURA ÓDIO?  Garanto que os resultados vão abrir um pouco as nossas janelas para que entre ao menos um pedacinho de esperança de que teremos um futuro.

Obs: A autora é  jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação.
Imagens enviadas pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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