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Os calendários avisam que nessa semana, iniciamos uma nova estação do ano. No hemisfério sul em que vivemos, deve começar a primavera. A única coisa não garantida é que a natureza agredida se lembre disso e tenha força para se renovar. Em Macapá, cidade por onde passa a linha do Equado, justamente, na quinta-feira, 21, ocorre o Fórum Social Amazônico, pela defesa da Amazônia. A grande imprensa pode afirmar o que quiser a favor do agronegócio, das empresas mineradoras e do interesse do capital. No entanto, todas as pessoas de boa vontade sabem que, se tudo continuar assim, até o próximo ano, o atual governo e a maioria do Congresso não deixarão no Brasil pedra sobre pedra.

Apesar de que, no Brasil, só o sudeste e o sul têm as estações bem definidas, setembro traz para todas as regiões bons sinais de mudança. No litoral do Nordeste, começa a temporada de praia. No Centro-oeste, voltam as chuvas e a umidade do ar. São sinais de renovação da natureza.  Desde tempos muito antigos, a humanidade vê a primavera como bênção e sinal do amor divino que fecunda o universo e o renova permanentemente. Em muitas culturas antigas, a primavera é também vista como apelo para que entremos no movimento da natureza através de uma profunda renovação de nossas vidas. Nesses dias, as comunidades judaicas celebram o Hosh Hashanah, a festa do Ano Novo que agradece a Deus que recria de novo o mundo e renova sua aliança com todas as criaturas. Em algumas casas de Candomblé Ketu, nessa semana se faz a festa das Águas de Oxalá, que ocorre na madrugada e traz o mesmo simbolismo de renovação.

Em 1962, quando preparava o Concílio Vaticano II que reuniria em Roma todos os bispos católicos do mundo, o papa João XXIII pediu a Deus que esse concílio significasse para a Igreja uma nova primavera. De fato, Deus o atendeu, ao menos em parte. É que nem Deus consegue vencer a barreira levantada pelos eclesiásticos acomodados e pelos funcionários da religião temerosos de perder seus privilégios. Agora, mais de 50 anos depois, o papa Francisco propõe que a Igreja Católica se renove no cuidado com a natureza e no serviço solidário a toda humanidade, especialmente aos mais pobres, vítimas da cruel desigualdade social. Se as Igrejas locais compreendessem essa proposta e os grupos católicos, congregações e dioceses aceitassem essa proposta, teríamos uma nova primavera eclesial. Por enquanto, já será uma ação primaveril antecipar a natureza e começar o trabalho de primavera em nosso modo pessoal de ser e de viver. Como escreveu o apóstolo Paulo: “O ser humano renovado vive cada dia e sempre um trabalho de renovação permanente à imagem daquele que o criou” (Cl 3, 10). É Deus que suscita no mundo uma terra renovada e promete: “Eu faço novas todas as coisas” (Ap 21, 5).

Obs: O autor é monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. 
É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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