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François Pignon é um homem que está divorciado há 2 anos, mas permanece apaixonado pela ex-mulher, que não quer mais falar com ele por considerá-lo chato. Seu filho também se mantém afastado por vontade própria e, para completar, Pignon está prestes a ser demitido. Deprimido com a vida, Pignon conhece seu novo vizinho, Belone, a quem conta sua atual situação. Belone lhe propõe uma solução inusitada para salvar o emprego do vizinho: enviar ao seu chefe uma fotomontagem onde Pignon aparece com outros homens, o que faria assumir sua presumida homossexualidade. De acordo com o plano de Belone, a empresa não demitiria mais Pignon por medo de que isto provoque o protesto da ala homossexual da sociedade, a quem os produtos da empresa também são voltados. Inicialmente relutante, já que não é homossexual, Pignon acaba aceitando o plano e vê sua vida se modificar totalmente após as fotos se tornarem públicas. A comédia inteligente de Francis Veber, O Closet, nos leva a compreendermos que preconceitos são quebrados quando realmente nos colocamos na situação do outro. Mas, não somente isso, o filme valoriza uma das característica essenciais de Jesus Cristo: a veracidade.
Nós todos corremos um grande risco em nossa vida: o de vivermos como se estivéssemos em um carro, em alta velocidade, sem termos tempo de olhar a paisagem. Muitas vezes deixamos que o nosso trabalho, os compromissos e as obrigações, as nossas preocupações e medos acabem tomando conta de nosso ser e de nossa vida. Ou então, quando temos tempo, procuramos ocupá-lo com tantas atividades que acabamos perdendo aquela ociosidade tão necessária para refletir sobre nós mesmos e sobre a forma que estamos vivendo. O resultado é que ficamos na superficialidade de nossas experiências, adquirimos muitas impressões falsas de nós mesmos, das outras pessoas e dos acontecimentos, realizamos várias de nossas atividades automaticamente e, o que é pior, ao olharmos a realidade acabamos não vendo o que ela na verdade nos oferece. O perigo aqui é a alienação, ou seja, deixar de nos perceber no contexto em que vivemos. O ser humano não é somente parte de uma história, mas principalmente sujeito ativo dentro do contexto histórico em que vive. Desta forma, viver significa contribuir para a construção da história em suas diversas dimensões. Como humanos construímos nossa história individual, a história de nossa sociedade e também história da humanidade. Justamente o primeiro passo para deixarmos de ser passivos e darmos um sentido à nossa existência é o “despertar para a realidade”, ou melhor, refletir sobre os fatos do nosso cotidiano e procurar vê-los de forma ativa, compreendendo o nosso momento e o nosso contexto. Nós nos libertamos da alienação à medida que sempre procuramos nos conhecer melhor, analisando nossas reações e desejos, nossa forma de ser e de nos relacionar com os outros e com o mundo. Nós nos tornamos menos alienados à medida que procuramos compreender a nossa sociedade, nos esforçando em ser pessoas bem informadas, analisando de forma crítica tudo que acontece na vida de nossa cidade, de nosso país e do mundo. Nós nos tornaremos mais vivos à medida que questionamos sobre a razão da existência, sobre o sentido de viver e de estar neste universo. Para isso, é necessário que criemos espaços livres de reflexão, momentos tranqüilos nos quais possamos realmente ver o que acontece conosco em nosso cotidiano. Aproveitar aquele momento de ociosidade, a nossa caminhada no fim do dia ou até mesmo a missa ou o culto religioso lançando um olhar crítico para dentro de nós mesmos e para o mundo. Uma das melhores formas de não perder de vista o caminho que trilhamos é diariamente, antes daquela tão desejada noite de sono, fazer uma pequena retrospectiva do nosso dia, procurando “reviver” os momentos bons e ruins que tivemos durante o correr do dia. Outra forma de sairmos da alienação é nos colocarmos na situação do outro. Este exercício é extremamente difícil, pois se colocar na situação do outro exige não somente nos imaginar na condição em que o outro se encontra, mas também nos revestirmos de sua alma, de sua visão de mundo, de sua educação. Só assim podemos compreender suas reações e falhas. Me colocar na situação do outro com a minha consciência é fácil e, muitas vezes, pode reforçar determinados preconceitos. Deus nos deu um dom maravilhoso, mas infelizmente pouco incentivado pelas religiões hoje em dia: o dom da inteligência. Com este dom podemos ir além das fronteiras estabelecidas pelo nosso ego, pelo preconceito e pelos costumes sociais. Pois, como afirma Fernando Pessoa, “Eu sou do tamanho do que vejo, e não do tamanho de minha altura.”