[email protected]

 1- DO DIVINO PERDÃO (Mt 18,21-35)

Quem ama não faz contas, não cobra dívidas, não “passa na cara”. Quem ama perdoa, só e sempre. E é uma questão, antes de tudo, de bom senso. É só olhar-se no espelho da própria consciência. Afinal, somos farinha do mesmo saco, bonecos do mesmo barro.

Se há em nós um sopro de vida, alguma inspiração para o bem, é coisa de Deus, dom do seu gratuito amor.

Ele, primeiramente, é aquele que não se cansa de nos perdoar, de nos dar a mão, de repetir o “levanta-te e anda!”, todos os dias.

Esse jeito divino de ser é o milagre maior, que tem de multiplicar-se através de nossas atitudes e gestos cotidianos de compreensão, misericórdia e perdão.

Menos do que isso é a “lei da selva”, a insensatez de uma convivência estressante, insuportável.

Não é por nada que nosso encontro com o Ressuscitado começa com um momento de revisão de vida, um pedido de perdão, um canto de arrependimento e de confiança na divina misericórdia, que nos perdoa “assim como nós perdoa

Uma das coisa que enfraquece a organização e a luta dos oprimidos e excluídos é incapacidade de compreender e perdoar… Somos muito rápidos em apontar erros, e muito exigentes em cobrar, e cobramos “pelo pé”… Nossa preocupação imediata não é ajudar o outro, a outra, a se perceber, a entender melhor as coisas, a encontrar o caminho de volta… Com a nossa pretensão de “justiça” e “verdade”, empurramos o outro, a outra, para o abismo, perdemos companheiros e companheiras, dividimos o grupo, a comunidade, enfraquecemos a luta… E não faltará quem ache bom e tire partido…

                                                                            ********  

“QUEM NÃO PERDOA NÃO É CRISTÃO!”

 Papa Francisco nos lembra: “O Senhor, o Pai é tão misericordioso que sempre nos perdoa, sempre quer fazer as pazes conosco”. Mas “se tu não és misericordioso corres o risco de que o Senhor não seja misericordioso contigo, porque seremos julgados com a mesma medida com a qual nós julgamos os outros”.
No final da sua homilia, e tomando a leitura de São Paulo o Papa lembrou que é necessário revestir-se de “sentimentos de ternura, bondade, humildade, mansidão e paciência”. Este, disse Francisco, “é o estilo cristão”, “o estilo com o qual Jesus fez a paz e a reconciliação”. “Não é o orgulho, não é a condenação, não é falar mal dos outros”.

Que o Senhor, concluiu, “nos conceda a todos nós a graça de nos suportarmos uns aos outros, de perdoar, de sermos misericordiosos, como o Senhor é misericordioso para conosco”.

2- OS ÚLTIMOS SERÃO OS PRIMEIROS (Is 55,6-9/Mt 20,1-16)

Uma lógica diferente… a do Reino de Deus!

Na matemática da vida, gosta-se muito de somar ou subtrair, quando a operação traz vantagens.

Multiplicar, sempre, contanto que não se precise dividir.

Dentro dessa lógica egoísta e voraz, não há espaço para a lógica do amor, da generosidade, da mão estendida a quem está se afogando, do priorizar a pessoa que mais precisa, aquela que foi sempre escanteada, relegada ao último lugar, esquecida, abandonada, marginalizada.

 E esta é a lógica do Evangelho, a marca inconfundivelmente divina da presença e da missão de Jesus.

Esta é a essência da sua mensagem, a característica principal do Reino que ele vem anunciar.

Esta é a questão de fundo presente em todos os conflitos entre ele e os poderosos da religião do seu tempo.

A causa principal da sua morte na cruz.

Revendo a semana que passou, chegamos para o encontro com o Ressuscitado, com a alegria de quem passou a semana “com os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”?…

 Seremos capazes de cantar-lhe um cântico novo, “porque ele é bom”?…

 * * * * *

Numa nação de grande maioria cristã, se os critérios do Evangelho realmente prevalecessem na maneira como atuam os cristãos que são gestores e legisladores, em todos os níveis do Estado brasileiro, como teria sido a Reforma Trabalhista?… Como precisaria ser a Reforma da Previdência?… E a Reforma Política?…

E nós, Cidadãs cristãs e Cidadãos cristãos, o que temos a ver com isso?… Faremos com que o Grito dos Excluídos e Excluídas continue ecoando?…

Já não é hora de começar a pensar nas eleições do ano que vem?…

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE. 
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]