1- DO DIVINO PERDÃO (Mt 18,21-35)
Quem ama não faz contas, não cobra dívidas, não “passa na cara”. Quem ama perdoa, só e sempre. E é uma questão, antes de tudo, de bom senso. É só olhar-se no espelho da própria consciência. Afinal, somos farinha do mesmo saco, bonecos do mesmo barro.
Se há em nós um sopro de vida, alguma inspiração para o bem, é coisa de Deus, dom do seu gratuito amor.
Ele, primeiramente, é aquele que não se cansa de nos perdoar, de nos dar a mão, de repetir o “levanta-te e anda!”, todos os dias.
Esse jeito divino de ser é o milagre maior, que tem de multiplicar-se através de nossas atitudes e gestos cotidianos de compreensão, misericórdia e perdão.
Menos do que isso é a “lei da selva”, a insensatez de uma convivência estressante, insuportável.
Não é por nada que nosso encontro com o Ressuscitado começa com um momento de revisão de vida, um pedido de perdão, um canto de arrependimento e de confiança na divina misericórdia, que nos perdoa “assim como nós perdoa
Uma das coisa que enfraquece a organização e a luta dos oprimidos e excluídos é incapacidade de compreender e perdoar… Somos muito rápidos em apontar erros, e muito exigentes em cobrar, e cobramos “pelo pé”… Nossa preocupação imediata não é ajudar o outro, a outra, a se perceber, a entender melhor as coisas, a encontrar o caminho de volta… Com a nossa pretensão de “justiça” e “verdade”, empurramos o outro, a outra, para o abismo, perdemos companheiros e companheiras, dividimos o grupo, a comunidade, enfraquecemos a luta… E não faltará quem ache bom e tire partido…
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“QUEM NÃO PERDOA NÃO É CRISTÃO!”
Papa Francisco nos lembra: “O Senhor, o Pai é tão misericordioso que sempre nos perdoa, sempre quer fazer as pazes conosco”. Mas “se tu não és misericordioso corres o risco de que o Senhor não seja misericordioso contigo, porque seremos julgados com a mesma medida com a qual nós julgamos os outros”.
No final da sua homilia, e tomando a leitura de São Paulo o Papa lembrou que é necessário revestir-se de “sentimentos de ternura, bondade, humildade, mansidão e paciência”. Este, disse Francisco, “é o estilo cristão”, “o estilo com o qual Jesus fez a paz e a reconciliação”. “Não é o orgulho, não é a condenação, não é falar mal dos outros”.
Que o Senhor, concluiu, “nos conceda a todos nós a graça de nos suportarmos uns aos outros, de perdoar, de sermos misericordiosos, como o Senhor é misericordioso para conosco”.
2- OS ÚLTIMOS SERÃO OS PRIMEIROS (Is 55,6-9/Mt 20,1-16)
Uma lógica diferente… a do Reino de Deus!
Na matemática da vida, gosta-se muito de somar ou subtrair, quando a operação traz vantagens.
Multiplicar, sempre, contanto que não se precise dividir.
Dentro dessa lógica egoísta e voraz, não há espaço para a lógica do amor, da generosidade, da mão estendida a quem está se afogando, do priorizar a pessoa que mais precisa, aquela que foi sempre escanteada, relegada ao último lugar, esquecida, abandonada, marginalizada.
E esta é a lógica do Evangelho, a marca inconfundivelmente divina da presença e da missão de Jesus.
Esta é a essência da sua mensagem, a característica principal do Reino que ele vem anunciar.
Esta é a questão de fundo presente em todos os conflitos entre ele e os poderosos da religião do seu tempo.
A causa principal da sua morte na cruz.
Revendo a semana que passou, chegamos para o encontro com o Ressuscitado, com a alegria de quem passou a semana “com os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”?…
Seremos capazes de cantar-lhe um cântico novo, “porque ele é bom”?…
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Numa nação de grande maioria cristã, se os critérios do Evangelho realmente prevalecessem na maneira como atuam os cristãos que são gestores e legisladores, em todos os níveis do Estado brasileiro, como teria sido a Reforma Trabalhista?… Como precisaria ser a Reforma da Previdência?… E a Reforma Política?…
E nós, Cidadãs cristãs e Cidadãos cristãos, o que temos a ver com isso?… Faremos com que o Grito dos Excluídos e Excluídas continue ecoando?…
Já não é hora de começar a pensar nas eleições do ano que vem?…
Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965).