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1 – DA PRESENÇA REAL

Mt 18,15-20

JESUS hoje nos congrega para revelar um dos seus segredos mais caros, um dos dogmas fundamentais da sua proposta eclesial:
Sua real presença em meio àqueles e aquelas que se encontram “em seu nome”, porque o relembram com amor, porque o têm como Mestre, porque são, hoje, seus discípulos e discípulas.
É nesse encontro de irmãos e irmãs que tudo de melhor pode acontecer:
– aí, na dinâmica da roda, é que se robustece a fé e a fraternidade…
– aí se resolvem, em última instância, todas as pendências de uma convivência fraterna, mas, mesmo assim, conflituosa…
– todos e todas são responsáveis por todos e todas…
– todos e todas se escutam e, juntos, buscam o melhor para todos e todas e para cada um, cada uma…
É nisso que deve consistir o poder de tudo ligar e desligar, na terra e no céu.
E a alegria do Salmo 133 naturalmente brotará do nosso cantar na celebração da fé e da irmandade

* * * * *

Neste 7 de Setembro, muita gente se juntou para caminhar pelas ruas gritando por Direitos e Democracia! Trabalhadores e Trabalhadoras gritaram e continuarão gritando: NENHUM DIREITO A MENOS! Alguém tem dívida de que estavam unidos “em nome de Jesus”?… Não se trata tanto de gritar o nome de Jesus, mas de estar juntos em nome das coisas do Reino de Deus, por Jesus anunciado, como ele nos dirá no Juízo Final (v. Mt 25,31-36): a solidariedade com os excluídos e   excluídas… Elas e eles próprios unidos, gritando pelos direitos da Classe Trabalhadora… Com certeza, aí, o Carpinteiro, o filho de José, o Ressuscitado que havia sido crucificado, estará no meio deles e delas!

2 – JEJUM EM TEMPOS DE GRITO

Depois da publicação de várias notas chamando os cristãos e cristãs a lutarem por seu direitos, a CNBB –  Conferência Nacional dos Bispos do Brasil convida a todos para uma “Jornada de Oração pelo Brasil, a ser realizada nas comunidades, paróquias, dioceses e regionais do país, de 1º a 7 de setembro próximo. Os bispos decidiram mobilizar os cristãos, por meio da oração, após a análise da realidade brasileira feita na última reunião do Conselho Episcopal Pastoral da entidade, dias 10 e 11 de agosto”.

E, esse convite, essa sugestão, levou algumas pessoas, como o sociólogo e escritor Pedro Oliveira, a refletir sobre essa espécie de recuo por parte da CNBB em relação ao chamado dos cristãos e cristãs a irem ás ruas ou mesmo participar de greves gerais, reivindicando de volta o que lhes está sendo tomado: o direito a uma vida digna  e a justiça social (http://jornaloporta-voz.blogspot.com.br/2017/08/a-cnbb-recolhida-em-jejum-e-oracao_23.html)

“O Dia de Oração e Jejum sugerido é o dia 7 de setembro, data que marca a Independência do Brasil”, ainda de acordo com a nota.

Ora, o dia 07 de setembro é, desde 1995, o dia em que vai ás ruas oGRITO DOS EXCLUÍDOS, gestado a partir da iniciativa da Pastoral Social da mesma CNBB e de movimentos sociais.  O 1º Grito dos Excluídos saiu  levando às ruas o tema da Campanha da Fraternidade daquele ano: “A Fraternidade e os Excluídos”.

E aqui colocamos a pergunta que não quer calar: por que jejum e oração e nenhuma menção ao Grito? Não poderia ter sido sugerido que a jornada proposta fosse encerrada com a participação, em todo o Brasil, no 23º Grito, cujo tema para esse ano é: “Vida em primeiro lugar. Por direitos e democracia, a luta é todo dia” ?

Por que jejum? Em um mundo onde milhões de pessoas passam fome, pessoas que dariam tudo por um pouco de alimento, não dá para entender como pessoas que têm acesso á alimentação deixariam de comer em prol de um país melhor. E as pessoas que já jejuam forçadamente todos os dias? Se o jejum fosse uma forma eficaz de melhorar o país, a privação dessas pessoas já não deveria ser suficiente para o país sair da crise? Então a injustiça social, a miséria, a fome diária pela qual passa a população carente do Brasil já não seria sacrifício suficiente? Ou o sacrifício dessas pessoas já é tão natural que não conta? O jejum que conta é de quem tem o que comer todos os dias e pode se dar ao luxo de deixar de comer quando quer? Se sofrimento físico modificasse o mundo, tornasse o mundo melhor, já não teriam sido suficientes as guerras e toda a miséria, por exemplo, de uma Etiópia? Baseado na suposta eficácia do jejum, o planeta hoje já não deveria ser um novo éden?

Por que então não propor um jejum diferente ás pessoas de boa vontade? Um jejum de egoísmo, de ódio, de intrigas, de corrupção, de perseguição? Por que não propor que na primeira semana de setembro se faça jejum dos preconceitos nossos de cada dia? Que tal então, por uma semana, ao menos por um dia se deixar de lado a misoginia, machismo, homofobia,  preconceito racial e de classe?

Por que não propor ao Povo de Deus, caros bispos e arcebispos da CNBB e religiosos e religiosas de todo o Brasil, que faça jejum de desrespeito, de ameaças, de desprezo?

Esse tipo de jejum sim, com toda certeza, nos tornaria pessoas muito melhores. E, aliado a esse jejum, de atitudes e não de comida, faríamos nossas orações, não apegados ás orações já prontas, mas em um momento de íntima relação com Deus, onde com sinceridade rogaríamos pela justiça social, pela dignidade da vida, para todos e todas e não apenas para quem pode se dar ao luxo de jejuar quando quer.

E depois desse jejum e dessas orações , estaríamos prontos de coração e alma, para sair ás ruas no dia 07 de setembro engrossar o coro dos que clamam por democracia e justiça. Para sermos ativos reivindicadores e, acima de tudo, promotores da vida em abundância para todos.

Em Recife: concentração a partir
das 09h da manhã na praça deo Derby

3 – DO DIVINO PERDÃO

Mt 18,21-35

Quem ama não faz contas, não cobra dívidas, não “passa na cara”. Quem ama perdoa, só e sempre. E é uma questão, antes de tudo, de bom senso. É só olhar-se no espelho da própria consciência. Afinal, somos farinha do mesmo saco, bonecos do mesmo barro.
Se há em nós um sopro de vida, alguma inspiração para o bem, é coisa de Deus, dom do seu gratuito amor.
Ele, primeiramente, é aquele que não se cansa de nos perdoar, de nos dar a mão, de repetir o “levanta-te e anda!”, todos os dias.
Esse jeito divino de ser é o milagre maior, que tem de multiplicar-se através de nossas atitudes e gestos cotidianos de compreensão, misericórdia e perdão.
Menos do que isso é a “lei da selva”, a insensatez de uma convivência estressante, insuportável.
Não é por nada que nosso encontro com o Ressuscitado começa com um momento de revisão de vida, um pedido de perdão, um canto de arrependimento e de confiança na divina misericórdia, que nos perdoa “assim como nós perdoamos”.

Uma das coisa que enfraquece a organização e a luta dos oprimidos e excluídos é incapacidade de compreender e perdoar… Somos muito rápidos em apontar erros, e muito exigentes em cobrar, e cobramos “pelo pé”… Nossa preocupação imediata não é ajudar o outro, a outra, a se perceber, a entender melhor as coisas, a encontrar o caminho de volta… Com a nossa pretensão de “justiça” e “verdade”, empurramos o outro, a outra, para o abismo, perdemos companheiros e companheiras, dividimos o grupo, a comunidade, enfraquecemos a luta… E não faltará quem ache bom e tire partido…

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE. 
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965).

Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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