D. Demétrio Valentini 1 de setembro de 2017

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Continua a angústia com a situação da Síria, envolvida em complicada guerra civil que vem se prolongando, sem perspectivas de solução. Por mais justa que possa parecer, a guerra traz sempre consigo graves equívocos, que desautorizam sua opção. E quando se trata de guerra civil, as circunstâncias são ainda mais trágicas, pois coloca em confronto cidadãos do mesmo país, apelando para a força das armas, em vez de apostar no diálogo que a democracia possibilita.

A complexidade de uma guerra civil, coloca a difícil questão de discernir como e quando seria conveniente uma intervenção com garantia da neutralidade, e com ascendência moral para levar as partes em conflito a deporem as armas, e retomarem as negociações. Em princípio, caberia às Nações Unidas tomar a iniciativa de persuadir as partes a abdicarem das armas, e instaurarem um processo de reconciliação nacional.

O organismo previsto nos próprios estatutos das Nações Unidas para estas hipóteses seria o Conselho de Segurança. Mas de novo assistimos ao triste espetáculo da incapacidade deste organismo, que foi pensado para ser um primeiro esboço de uma espécie de “governança global” de que a humanidade há mais tempo necessitaria. Por sua vez, quanto mais complicada a situação do país envolvido em guerra civil, mais difícil se torna uma ação externa com vistas a cessar os combates e providenciar a indispensável ação de mediadores, com a garantia de neutralidade diante das posições contrastantes das forças em combate.

A recente experiência de diversas guerras ocorridas na complexa situação do Oriente Médio, a lição mais clara parece ser esta: a intervenção militar estrangeira em nada ajuda a solucionar os problemas. Ao contrário, acaba acirrando os ânimos e radicalizando sempre mais as posições. Uma intervenção militar significaria colocar lenha na fogueira. Ainda mais na complicada situação dos países próximos à Síria.

O que não significa que todas as ações externas sejam vedadas. Mas todas elas, devem ter o claro propósito de dissuadir as partes a continuarem o confronto militar. Se possível, uma mediação que ajude a superar impasses, deveria garantir a todas as partes envolvidas no conflito, que serão respeitadas, e poderão contar com o efetivo apoio das outras nações para a consecução da paz.

Uma mediação muito importante e imprescindível, para a situação atual da Síria, é continuar o esforço iniciado pelo Papa Francisco, procurando envolver a todos no esforço de garantir as condições de paz para a Síria. Para isto, é bom colocar o peso da instituição à qual cada um está integrado. Mas em casos tão complicados e delicados como este que o povo sírio está vivendo, mais que as instituições, vale o testemunho pessoal de quem goza de autoridade moral, que precisa ser sempre preservada como patrimônio comum da humanidade.

Todos nos damos conta de quanto foi preciosa a iniciativa do Papa Francisco, de promover um dia de oração e de jejum pela paz na Síria. Esta iniciativa deteve o ímpeto belicista do Governo dos Estados Unidos, e conseguiu ao menos que a hipótese de uma mesa de negociações se torne possível e seja assumida pelas partes envolvidas, como caminho de diálogo e de superação das desavenças acontecidas.

A solução deste difícil conflito é um desafio que poderá significar a superação das causas que o produziram, e a confirmação do Papa Francisco como personalidade de ascendência moral importante, de que a humanidade tanto precisa hoje. Não podemos ficar em paz, enquanto povos irmãos se degladiam em guerra. Que Deus atenda nossas preces, e ajude o povo sírio a experimentar a nobreza de espírito das atitudes de perdão mútuo, de reconciliação fraterna e de paz duradoura!

Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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