A mulher vende bolo e manteiga em banca na feira. Não faço ideia do lucro que tem se, do produto que transporta até a feira, tudo for vendido. Enquanto o freguês não aparece, está ela bem risonha, a conversar com um e com outro, alegria que não se perturba mesmo tendo uma filha, de menos de um ano, em seu carrinho, a menina toda bem agasalhada, ali, bico na boca, quieta, a observar o movimento da feira.

A vendedora de frutas está de bermuda, as pernas à mostra, blusa um tanto decotada, batom na boca, bem saltitante, a vender sua mercadoria, enquanto a mãe, de cujo rosto e corpo é quase a reprodução fiel, tirando o peso da idade que as separam, permanece sentada, a debulhar feijão, ao lado de diversas verduras. A mãe trabalha e canta, a filha atende ao freguês com um sorriso, que a deixa mais encantadora. A alegria das duas ali esconde o enorme trabalho que tiveram, de meia-noite em diante, a levar caixas e sacos com a mercadoria, a ser vendida, para depois, pacientemente, exibi-los em locais diferentes. A disposição de ambas supera o fato de que, muitas frutas, o caju, por exemplo, se não for vendido, amanhã, provavelmente, não poderá ser aproveitado, e, assim, seu destino é ir parar se transformar em lixo, ficando como resto de feira,  no seu final, na hora de arrumação do que sobrou e do que serve para a próxima feira.

Incluo o vendedor de jaca, de coco, de manga, de tangerina, que tem sítio no interior, e, na sexta-feira começa a arrumação das caixas e dos sacos, para levá-los até o ponto onde o caminhão os pega, e, dali até a feira, sobrevivendo o dia inteiro com uma alimentação e improvisada, e a frente de sua barraca se encontra disposto, alegre, a trocar delicadezas com os fregueses, cortando a jaca, mostrando que a cor da manga varia de acordo com o sol que nela bate durante o dia.

No seu conjunto, são pessoas que transitam em várias feiras, em locais diferentes, levando seu produto, com as dificuldades de locomoção, mas bem felizes com o que fazem e com o que vendem, retornando ao lar com o dinheiro guardado, em quantia que, evidentemente, não significa grande soma, mas o suficiente para as despesas do dia a dia até a próxima feira.

Essa a realidade da feira, tão diferente da que o noticiário, seja do rádio, seja da televisão, seja do jornal, mostra, na citação de nomes, dos mais importantes da vida da República, mergulhados no mar da corrupção, todos, absolutamente, com as mãos sujas do dinheiro que roubam e que enchem as contas no exterior, uns até a confessar que chegaram a amealhar dinheiro suficiente para sustentar três gerações sem necessidade alguma de trabalhar. Enquanto roubam, o serviço, que o Estado deveria prestar, é deficiente, para não dizer inexistente, a população sufocado por tributos para tudo, porque, no modelo existente, todos contribuem para o bem estar desses homens cuja sede pelo dinheiro é insaciável. Os varões da República não passavam de ladrões da República. (01 de julho de 2017)

Que diferença entre eles e os vendedores da feira!

Obs: Publicado no Correio de Sergipe
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.   

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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