Nei Alberto Pies 15 de agosto de 2017

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Somos, por natureza humana, pouco bons e pouco maus. Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno, estamos em busca do necessário equilíbrio. As religiões sabem disso, por isso sua insistência em nos ajudar a equilibrar os pensamentos e as ações cotidianas.

Constatei que há cada vez mais gente querendo ser “uma pessoa de bem”. Em busca de explicações e razões de ser deste desejo, comecei a conversar com colegas e amigos. Para minha surpresa, muitos concordaram na percepção de que há uma multidão querendo “ser do Bem”.  Confessaram-me que muitos necessitam dizer-se do Bem, para diferenciar-se dos demais.

“Certamente todos pronunciam a palavra Bem, mas não percebem o que ela pode ser.” (Hermes, sábio do Antigo Egito)

Decidi sugerir a organização de uma Irmandade ou um “Partido do Bem”. Num país que já tem 33 partidos, estes poderiam ajudar na democratização das ideias, representando o Bem como uma poderosa ferramenta para combater todo o mal, principalmente as sofisticadas “maracutaias” que teimam em “tomar nosso dinheiro público”. Tal ação favoreceria todos que desejam ser do Bem agrupar-se, criando uma Plataforma de Intenções, talvez um debate mais amplo sobre o que vem a ser o próprio Bem. Talvez pudessem, com urgência, registrar esta organização na Justiça Eleitoral, para concorrer a cargos eletivos nas mais diferentes esferas de organização política da sociedade, representando e argumentando pelas ideias do Bem.

Em busca de razões mais consistentes sobre o desejo de ser do bem, pensei comigo: como pode alguém querer ser do Bem? O que é o Bem? O posicionamento a favor do Bem é em contraposição ao Mal? Quem poderá ser do Bem? Afirmar-se do Bem não é contrariar a nossa condição humana, de pessoas incompletas, que convivem com as mais variadas contradições de pensamento e de ação? Não é muito tênue a linha que nos separa do Bem e do Mal?

Pensei ainda se conseguiríamos, de fato, conviver harmoniosamente com uma pessoa absolutamente boa. Da mesma forma, se conseguiríamos suportar uma pessoa absolutamente má em tudo o que pensa e faz. Percebi então que não suportaríamos, por óbvio, nem os absolutamente bons e nem os absolutamente maus. Seria chato e perigoso demais conviver com estes.

Conclusão: somos, por natureza humana, pouco bons e pouco maus. Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno, estamos em busca do necessário equilíbrio. As religiões sabem disso, por isso sua insistência em nos ajudar a equilibrar os pensamentos e as ações cotidianas.

Os que precisam diferenciar-se dos outros devem sofrer por seu perverso egoísmo. Só o ego pode explicar a razão de ser daqueles que necessitam se declarar pessoas de bem. O reconhecimento do bem e da maldade que a gente faz, pelas palavras e pelas ações, sempre é prerrogativa dos outros. Não pode ser jamais prerrogativa subjetiva, para alguém achar-se superior ou mais importante do que os outros.

Rendo-me aqueles que desejam ser do Bem, mas não posso concordar com eles.(11.07.14)

Obs: O  autor é professor, escritor e ativista em direitos humanos, desde Passo Fundo, RS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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