Padre Beto 15 de agosto de 2017

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Baseado no livro que vendeu quase 400 mil exemplares na França e foi traduzido em 25 línguas, o filme de Sijie Daí “Balzac e a Costureirinha Chinesa” conta a história de dois amigos chineses de 17 anos. Em plenos anos 70, os dois são enviados para um campo de reabilitação. Qual foi o crime que cometeram? Serem filhos de “burgueses” (um dentista e um médico). Considerados “inimigos do povo”, os meninos são condenados a trabalhos forçados nos confins do Tibet. Tudo muda, no entanto, quando eles conhecem a bela neta do costureiro local e decidem impressioná-la seduzindo-a com histórias de livros ocidentais proibidos, como os romances de Balzac. A partir daí, dois universos se encontram: o ocidental e o oriental. Mais ainda, a leitura e a imaginação se revelam revolucionárias e subversivas a um sistema autoritário e opressor. Vivemos em uma democracia, mas por incrível que pareça nos identificamos com o povo simples que são impedidos de ler e abrir seus horizontes.

Santo Isidoro, grande intelectual e arcebispo de Sevilha, ensina em suas Etimologias que a humanidade primeiramente escreveu em folhas e cascas de árvores, surgindo desse costume a expressão “livro”. Esta pequena palavra possui suas raízes na expressão latina “líber”, que significa o tecido condutor da seiva nos vegetais vasculares. Apesar da origem da escrita se perder no tempo, as descobertas arqueológicas até agora mostram que já há 8.500 anos antes da era cristã seres humanos utilizavam os símbolos para documentar suas experiências e pensamentos. Nos primórdios das grandes religiões contemporâneas, como o judaísmo, o cristianismo, o islã, o hinduísmo e o budismo, encontramos textos escritos como frascos possuidores da mensagem divina. Um deles, a bíblia, fez com que os povos europeus aprendessem a ler. “Feliz o leitor e os ouvintes das palavras desta profecia, se observarem o que nela está escrito, pois o tempo está próximo” (Ap 1,3). E se pensarmos no livro como o temos hoje, o mais antigo é a chamada “Bíblia de Gutenberg”, impressa por volta de 1454 pelo inventor Johann Gutenberg, em Mainz, na Alemanha. A comunicação escrita, e com ela o livro, acompanhou o desenvolvimento da humanidade registrando suas experiências e auxiliando a ampliação destas.

Dizem que quando o escritor francês Honoré de Balzac, após passar uma noitada com amigos que falavam de tudo em geral, mas de nada que fosse significativo, entrava em sua biblioteca, tirava o paletó, esfregava as mãos e, olhando para a estante de livros, desabafava: “Agora, é a vez de homens de verdade!” Apesar da concorrência que sofre frente a outros veículos de comunicação, o livro continua a ser em pleno século 21 insuperável na combinação entre transmissão de conhecimento, entretenimento, formação e ampliação dos horizontes. Além de nos oferecer uma viagem a inúmeras épocas e a diferentes lugares sem a mínima necessidade de nos deslocarmos fisicamente, o livro permite que o leitor se envolva imaginativamente com a história criando e recriando as diversas situações.  Não importando seu estilo ou formato, se o livro é uma antologia, biografia, conto de fadas, cordel, dicionário, novela ou exposição de teses científicas e filosóficas, este antigo objeto não somente nos oferece informações, mas principalmente amplia nossa própria capacidade de comunicação. Quem possui o hábito de ler livros adquire, com o tempo, um vocabulário invejável. Não é exagero afirmar que ler é para a mente o que o exercício é para o corpo. O livro, que pode ser adquirido em livrarias, ou por um preço mais em conta nos sebos, ou mesmo emprestado de bibliotecas, nos acompanha por toda a parte sendo nosso companheiro no ponto de ônibus, na fila do banco ou na sala de espera do dentista. Além de ser um ótimo companheiro para todos os momentos, um eficiente instrumento de exercício mental e uma janela para o mundo, o livro é um verdadeiro caminho de humanização. Livros deveriam estar em nossas listas de presentes obrigatórios. As crianças deveriam crescer na convivência com eles. Nossos olhos deveriam estar acostumados com os livros. Mais ainda, nós deveríamos cultivar a teimosa postura de ler; afinal, esta vai contra ao sistema da sociedade de consumo que nos tira tempo e dinheiro sem nos oferecer cultura e oportunidades de reflexão. A leitura em si já é uma “contracultura” que nos desaliena da ideologia do progresso individual e nos leva a compreensão de uma “unimultiplicidade” de estilos de vida e pensamentos.  “Quando ganho algum dinheiro, compro livros; e se me sobrar algo, compro comida e roupa” (Erasmo de Rotterdam).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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