Iniciou apresentando a dimensão humana e divina da Igreja, ressaltando que a Igreja só vai se constituir como tal se consegue, com sua pregação e anúncio da Palavra, despertar a fé. Para isso, precisa estar atenta à linguagem e aos problemas do tempo em que vive. Já que mesmo Jesus era fruto de seu tempo enquanto linguagem, conceitos e expressões que eram possíveis a ele utilizar.

Segundo o pregador, o mundo vive um contexto de rápidas e sucessivas mudanças socioculturais que questionam fortemente o modelo de cristianismo expresso em linguagens ultrapassadas e modelado em padrões mais próprios do passado. Trata-se de uma realidade em que a mensagem da Igreja é desvalorizada e, por conseguinte, não é recepcionada como significativa para os desafios que implicam a humanidade contemporânea.

“Toda crise cultural atinge a Igreja, que está no mundo, e não à parte dele. Nessa crise, tudo vira mercadoria. O que comanda é fator financeiro, e isso é muito sério. Há também uma crise de valores. O que hoje era estável amanhã não se sabe mais. O que se via antigamente como amor à Pátria, de jovens saindo à rua para lutar contra a ditadura, de assumir valores e lutar pelo bem comum, hoje parece que cada um pensa primeiro em sua felicidade imediata e bem-estar”, disse.

“Hoje toma corpo certa cultura desligada do transcendente. Na Europa, por exemplo, já há uma falta de religiosidade popular, o que aqui ainda é muito forte e tem de ser valorizado. Outro fator de crise que se percebe é a indiferença. Não há uma referência em nível mundial. O fator econômico mina a liderança política. Por isso não temos lideranças mundiais. É um momento sério da sociedade, faltam líderes. Onde estão Churchill, De Gaulle, Adenauer? Não tem mais, está faltando líder. Na Igreja também, e os problemas são muito grandes. As religiões têm um papel muito forte no mundo de hoje, e a Igreja tem de ser uma reserva ética, apesar dos mal feitos da cúpula”, observou, lembrando que o Papa Francisco é um líder isolado, que diz o que tem que ser dito.

Segundo o palestrante, Parecem não possíveis para uma realidade mais crítica. Quem percebeu isso muito bem foi o Papa Francisco, que não insiste em grandes encíclicas morais ou teológicas, mas prefere falar por gestos. E o gesto hoje que mais toca é ir ao encontro do outro, humanizando uma sociedade tão desumana, violenta e egoísta. Gestos de gratuidade, que valorizam a vida humana. Há um tipo de evangelização hoje por gestos, que humaniza uma sociedade tão dilacerada, neurótica, dividida, egoísta… A Igreja precisa rever muito mais esses gestos, mais do que obras sociais. Madre Tereza de Calcutá talvez não tivesse teologia, mas mexia com as pessoas. Esse Papa Francisco toca corações, mesmo não católicos reconhecem esses valores”, ensinou.

Pe. França disse que a liturgia está precisando de uma reforma. “As orações oficiais têm uma teologia pesada, que não é muito cristã. Existem termos que não se entendem mais”, criticou.

Para ele, é importante valorizar a religiosidade popular. “Não imaginamos a riqueza que temos na América Latina. A inculturação da fé através da religiosidade popular é um fenômeno muito importante que parece ter dado certo. Essa facilidade de se voltar a Deus, de reconhecer a ação de Deus na vida do povo, essa capacidade de ser impactado pelo sagrado, em contemplação”, valorizou.

Pe. França fez uma profunda reflexão com bases nesses pontos: QUESTÕES ESTRUTURAIS: Dialética entre Igreja local e Igreja universal; Sinodalidade e participação; A paróquia; Uma Igreja dos pobres; QUESTÕES TEOLÓGICAS E PASTORAIS: Uma fé cristã que ponha ênfase na caridade, não apenas em obras,  A liturgia está precisando de uma reforma, Valor da religiosidade popular, Evangelização humanizadora, A mística da fé, Dimensão missionária dos leigos, Aceitação da diversidade e do diálogo, Conversão pastoral, Gratuidade.

Segundo o Pe. França, os desafios que se apresentam impactam na vida e na configuração institucional da Igreja Católica. Entretanto, Miranda esclarece que não basta uma análise crítica. Além de esclarecer o momento vivido pela Igreja, implica-se no desafio de motivar os próprios fiéis a desencadearem processos de mudança e assumirem atitudes propositivas, abrindo a possibilidade de uma nova configuração histórica da Igreja adequada aos nossos dias.

Segundo ele, é preciso conversão pastoral. “Quando pensamos em conversão, logo ligamos com moral. Ela é necessária, mas o mais difícil é uma conversão intelectual. Romper com aquilo que achamos única verdade. Reconhecer a historicidade do conhecimento, afinal todo conhecimento é interpretação. A doutrina é construção, não um monolito que desceu do céu. O cristianismo é caminhada!”, disse.

“Hoje, onde tudo é racional, onde todos perguntam não pelo sentido das coisas, mas para que serve, a gratuidade é fundamental. O cristianismo propõe um olhar de gratuidade, sem interesses”, concluiu.

Os capitulares tiveram à tarde e começo da noite a assessoria do teólogo jesuíta Mario de França Miranda, que neste ano ganhou o Prêmio Ratzinger de Teologia e se tornou o primeiro brasileiro a receber este prêmio instituído em 2011. Aos 79 anos, França  é doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana (Roma) e professor de Teologia na PUC-Rio. Fez parte da Comissão Teológica do Vaticano de 1992 a 2002. É autor de diversos artigos e livros de Teologia, entre eles “A existência cristã hoje” (São Paulo: Edições Loyola, 2005), “A Igreja numa sociedade fragmentada. Escritos eclesiológicos” (São Paulo: Edições Loyola, 2006) e “Aparecida: a hora da América Latina” (São Paulo: Edições Paulinas, 2006).

Sua palestra, “Apelos da realidade”, serviu como base para a reflexão dos capitulares, que responderam em grupos à seguinte pergunta: “Que inquietações a fala do Pe. França Miranda suscita em nós, aqui reunidos, para tratarmos enquanto irmãos e menores?” Além do plenário, o Pe. França ainda teria um diálogo com os capitulares à noite.

Pe. França Miranda agradeceu a acolhida bem franciscana dos capitulares e disse se sentir bem em meio dos frades. Ele ressaltou que agora, tendo um papa jesuíta que soube assimilar muito bem os valores franciscanos, a Igreja e a Teologia vivem um novo tempo.

 

*Os capitulares tiveram à tarde e começo da noite a assessoria do teólogo jesuíta Mario de França Miranda, que neste ano ganhou o Prêmio Ratzinger de Teologia e se tornou o primeiro brasileiro a receber este prêmio instituído em 2011. Aos 79 anos, França  é doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana (Roma) e professor de Teologia na PUC-Rio. Fez parte da Comissão Teológica do Vaticano de 1992 a 2002. É autor de diversos artigos e livros de Teologia, entre eles “A existência cristã hoje” (São Paulo: Edições Loyola, 2005), “A Igreja numa sociedade fragmentada. Escritos eclesiológicos” (São Paulo: Edições Loyola, 2006) e “Aparecida: a hora da América Latina” (São Paulo: Edições Paulinas, 2006).

Sua palestra, “Apelos da realidade”, serviu como base para a reflexão dos capitulares, que responderam em grupos à seguinte pergunta: “Que inquietações a fala do Pe. França Miranda suscita em nós, aqui reunidos, para tratarmos enquanto irmãos e menores?” Além do plenário, o Pe. França ainda teria um diálogo com os capitulares à noite.

Pe. França Miranda agradeceu a acolhida bem franciscana dos capitulares e disse se sentir bem em meio dos frades. Ele ressaltou que agora, tendo um papa jesuíta que soube assimilar muito bem os valores franciscanos, a Igreja e a Teologia vivem um novo tempo.

Equipe de Comunicação do Capítulo Provincial

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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