Padre Beto 1 de agosto de 2017

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Em “Dias de Glória”, de Rachid Bouchareb,  acompanhamos o sofrimento do primeiro contingente francês, organizado para enfrentar a Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Para ludibriar os alemães, 130 mil soldados foram convocados em colônias francesas na África. Não franceses são levados a lutar para a proteção dos franceses. A história esquecida desses heróis é contada por meio da trajetória de quatro soldados ditos “indígenas”: Abdelkader, Saïd, Messaoud e Yassir. Os soldados vindos das colônias sofrem discriminação dos franceses e vivenciam sentimentos de ódio e identidade com a luta, dignidade e coisificação. Na verdade, a luta pela libertação das colônias é, com muita perspicácia, instrumentalizada pela proteção nacional dos franceses.

Através de um processo de educação que acentua mais os erros que os acertos, aprendemos a dar grande importância às experiências negativas da vida e formamos, assim, uma mentalidade que não nos valoriza como deveria e nos contagia com um descrédito em relação ao nosso poder de realização. Graças a Deus, o ser humano é dinâmico e mutável. Se aprendemos com o tempo a pensar negativo e, muitas vezes, nos sentimos incapazes de realizar algo novo, podemos, sem dúvida alguma, também aprender a pensar positivo e nos tornarmos cada vez mais sujeitos de nossa história. Pensar positivo é saudável, afirmam os pesquisadores da universidade americana de Wisconsin-Madison. O que a cultura popular sempre afirmou foi provado cientificamente: pensar negativo não faz nada bem, ou melhor, deixa doente. O pessimista apresenta maior nível de atividades no lado esquerdo do cérebro chamado de alto pré-frontal córtex, enquanto que as atividades do lado direito estão ligadas aos pensamentos positivos. Os cientistas americanos comprovaram que pacientes não reagem bem, por exemplo, a vacinas contra a gripe, quando apresentam alto nível de atividade do lado esquerdo do cérebro. Em outras palavras, o pessimismo pode afetar o sistema imunológico. Pensamentos negativos ou positivos geram emoções e estas representam um importante papel na modulação do sistema corporal que influencia nossa saúde.

Pensamento positivo, porém, não significa mergulhar em uma falsa ingenuidade burguesa que procura nos convencer sempre que, por mais desgraças que existam, tudo está bem e vai se tornar melhor. Pensamento positivo não significa também tornar-se cego diante das coisas ruins da vida e evitar sempre tematizá-las. O elefante precisa de um conhecimento realista de si próprio para perceber sua verdadeira força e utilizá-la em sua libertação. “Os ventos e as ondas estão sempre do lado dos navegadores mais competentes” (Edward Gibbon). Da mesma forma, nós nunca saberemos do que somos verdadeiramente capazes se somos tomados pelo medo e pelas lembranças ruins do passado. Quem possui uma postura positiva diante da vida não se recusa a reconhecer o negativo, recusa-se sim a estacionar-se nele. Pensar positivo é basicamente pensar e agir acreditando profundamente em nosso desenvolvimento pessoal. “Não tento dançar melhor do que ninguém. Tento apenas dançar melhor do que mim mesmo” (Mikhail Baryshnikov). O pensamento positivo é um hábito mental que nos leva a buscar os melhores resultados das piores condições. Mesmo no caos é sempre possível procurar um meio para construir; mesmo em grandes perdas é possível guardar-se o melhor. Fato notável é que, quando se procura pelo melhor, temos grande e realista probabilidade de encontrá-lo. Portanto, pense alto e acredite em suas condições reais.

Porém, o pensar positivo não se reduz em buscar o melhor na situação ruim, mas manter-se crítico diante de qualquer acontecimento buscando cultivar em si valores que não devem desaparecer como honestidade, solidariedade, sinceridade, transparência, igualdade de direitos e condições. O pessimista acredita que o mundo e o ser humano são assim como se apresentam hoje. O otimista acredita que o mundo e o ser humano podem se transformar. O otimista é sempre revolucionário e o revolucionário é sempre otimista. Os dois nunca desistem, mesmo que várias evidências tentem convencê-los do contrário. Para se pensar positivo é necessário perceber que, pelo menos em nossa vida privada, podemos praticar valores que não estão presentes em nossa sociedade. Neste universo privado podemos concretizar o que um dia poderá ser coletivo. Entretanto, esta concretização não pode ser uma camuflagem de nossos ideais, mas sim passos significativos de nossa esperança em um mundo coletivo mais humano e mais igualitário. Isso se faz com atitudes que realmente fazem as pessoas pensar e mudar seus comportamentos em relação a si mesmos e em relação à sociedade em que vivem.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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