Dasilva 1 de agosto de 2017
  1. Primícias – As primícias são os melhores frutos da terra, em uma plantação e, por analogia, são as pessoas que melhor resumem ou encarnam um momento histórico, um povo, uma ideia. Nasce daí o debate se tais figuras adquirem ou se já nascem com essas capacidades. Há explicações religiosas que explicam seu aparecimento como uma predestinação, em vista de uma missão significativa. Difícil é explicar porque certas pessoas nascem com tantos atributos, outras nem tanto ou até carregam imensas limitações. Por que a discriminação entre dádiva e castigo?
  2. Constatação – É inegável a existência de certas personalidades (que não são muitas) que parecem dotadas de uma antevisão dos fatos e da rapidez no entendimento e formulação de respostas adequadas, sobretudo, em momentos de conflito. Inclusive a história da humanidade é vista a partir da atuação de homens e mulheres que brilharam como poetas, profetas, santos, líderes revolucionários… Isso ajuda a alimentar a busca crença nesses “guias e condutores”, assim como a formação do séquito daqueles que delas dependem ou delas se servem.
  3. A pessoa e seus dons – Um exame cuidadoso vê que, entre outras coisas, há uma conjunção de fatores que criam as condições objetivas dessa liderança. Recebem, de graça, herança genética favorável, base nutricional suficiente, espaço familiar de incentivo, território geográfico de eventos memoráveis, um rico momento histórico, uma oportunidade de formação educativa e cultural, acima da média. Diante de tantas circunstâncias que recebe como dadas, resta perguntar como fez o filósofo: o que fazem com tudo isso que fizeram delas?
  4. Potencializar os dons – Só o fatalista aceita a explicação da fidelidade das personagens ao piloto automático do destino. As condições objetivas criam possibilidades, mas essa energia potencial só se torna cinética se entra em ação a intervenção da consciência desses “dons”, a vontade, a disposição e a decisão corajosa das pessoas em aceitar e aplicar seu potencial. É verdade que a ocasião faz o ladrão ou o herói…. Mas, a ocasião e, sobretudo, a sustentação dessa opção requer constante esforço pessoal, muita ousadia e a busca de companhia de apoio e discernimento.
  5. Primícias do Povo – Em vez de privilégio, a primícia popular entende suas capacidades como serviço a classe que trabalha. Aprendeu que direção não se elege; é reconhecida pela confiança que conquistou. Essa referência construída tem características como: 1. Tem clareza e são fiéis a uma causa; 2. Está profundamente colada ao ânimo e interesses de sua base social; 3. Democratiza o poder ao repartir as tarefas conforme a necessidade da luta, a habilidade das pessoas e seu gosto pessoal; 4. Intui e propõe respostas adequadas a cada momento.
  6. Cuidar das primícias – As primícias brilham, atraem e mobilizam. Também podem iludir e tirar proveito próprio (personalismo, arrogância, enriquecimento), pois, toda tentação é sedutora e não tem vacinação. Para que rendam mais e não caiam no canto da sereia do mundo da opressão, seguem recomendações como: 1. Manter um grupo de confiança e a constante avaliação crítica e autocrítica; 2. Recordar e celebrar sempre os princípios e valores do campo popular; 3. Evitar permanência na sede, na burocracia e participar em algum espaço de luta direta.
  7. Somos todos primícias – Ninguém é uma ilha, todos dependem uns dos outros. Assim, não existe personalidade autossuficiente, depende de auxiliares. Então, é preciso: vencer o mito do líder individual, nem sempre diz, mas sofre solidão; afirmar que tantas e tão variadas tarefas só podem ser feitas por uma direção coletiva; cuidar da garantia da continuidade da proposta, no caso de afastamento das referências. Junto com os dons herdados, o esforço pessoal, o estudo, o espirito de superação, a ousadia, a presença no meio do povo… se forjam novas primícias.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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