Aí a gente sai, dança, faz pose, tira foto, sorri, come bem e tudo mais. Mas fica algo faltando, algo bem maior do que essa ilusão da felicidade. Falta essa felicidade espalhada pelo mundo, pelos irmãos, pelos que não tem nem o que comer, onde morar nem pelo que sorrir. Então chega alguém e me diz que não pode mudar o mundo, nem sofrer pelos que sofrem. Aí a dor fica maior. Sofro, sofro realmente por essa felicidade partida, selecionada, incompleta, por esse mundo feito de metades e quartos, quase nada e nada, absolutamente nada. Como sorrir abertamente com o coração e a alma? Sinto, sinto muito pelo mundo e por tudo que simplesmente não consigo ignorar, fazer que não existe. Sinto pelas crianças no meio de uma guerra, que não sabem o que é brincar, comer, estudar, apenas sabem sofrer e que já nasceram no sofrimento, pelos que trabalham arduamente numa lavoura e nem mesmo tem o que comer em casa, pelos sertanejos, pelas injustiças, por todas as vítimas de descasos e preconceitos, pela situação do meu país e pelos homens de gravata que um dia tive a inocência de acreditar. Sinto pela ganância, pela insensatez, pela mediocridade de sentimentos e pelas vaidades mundanas e passageiras. Sim, alguém proibiu de falar coisas tristes aqui no face, mas as coisas tristes me rodeiam, desde o momento em que acordo e ponho o pé na rua ou ligo a Tv, ou ouço rádio. E por mais que eu pareça estar bem não consigo arrancar de mim o que se passa fora do meu chão, nem mesmo um cão com sede a andar pelas ruas. Sim, talvez seja muito estranha, mas eu prefiro ser assim, uma alma inquieta e estranha. Talvez essa agonia me deixe doente, mas creio que doente estou ficando desde que descobri que tudo o que eu pensava ser perfeito jamais chegou perto da perfeição. Quando criança eu olhava aqueles homens de paletó, governando meu país e achava, sinceramente, que podia confiar neles, que eram os homens da lei, que ao menos eles eram corretos. Achava que um médico jamais seria capaz de prejudicar seu paciente e que realmente ele havia se formado para salvar vidas, ter compaixão e ajudar a cada um. Achava que a justiça era justa e que a humanidade era boa. Para mim a ruindade estava no Bicho Papão, na madrasta da Branca de Neve, no Dick Vigarista, no Papa Figo. A ruindade era exceção. Mas eu cresci, infelizmente, eu cresci e o mundo me mostrou o lado cruel dos humanos. Descobri que são capazes de tudo para se dar bem, capazes de tudo por dinheiro, inclusive de destruir famílias, são capazes de se alegrarem com o sofrimento alheio, de maltratar, de matar e outras tantas coisas que para mim fazia parte de uma minoria da turma do Lobo Mal. Portanto, desculpem o desabafo, mas muitas vezes fica difícil sorrir com todos os dentes.
Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
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