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Já está em pleno andamento Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida. Vai durar dez dias, como já é costume consolidado.

Esta é a 52ª assembleia geral. Pelas contas feitas a partir da data de fundação da CNBB, em 1952, seria bem maior o número de assembleias. Acontece que por um bom tempo as reuniões não eram anuais, mas de dois em dois anos. E bem no início, deviam participar só os arcebispos.

Com a chegada do Concílio Ecumênico Vaticano II, em 1962, com os debates em torno da colegialidade episcopal, ficou bem ressaltada a importância dos bispos, que participam, em plenitude, do ministério apostólico, conferido pelo sacramento da ordem. Com isto, ficam relativizados todos e quaisquer outros títulos ou ofícios que podem ser conferidos a determinados bispos. Pois todos eles participam, igualmente, da dignidade e missão episcopal, pelo sacramento, e não por títulos ou encargos que um bispo possa vir a ter.

A consciência da igual dignidade de todos os bispos ficou muito ressaltada na trajetória da CNBB, especialmente a partir do Concílio. Tanto que por diversas vezes foram eleitos para presidirem a CNBB, não arcebispos, mas simplesmente bispos diocesanos.

Esta postura da CNBB, de apreço e valorização do sacramento da ordem como referência para a distribuição de responsabilidades entre os bispos, chegou ao seu ponto culminante quando em 1987 foi eleito presidente Dom Luciano Mendes de Almeida quando ainda ele era bispo auxiliar de São Paulo. Isto provocou uma reação da Cúria Romana, que determinou a todas as Conferências Episcopais, que colocassem em seus estatutos que “bispo auxiliar” não pode ser eleito presidente da Conferência.

Mas não deixa de ser emblemática esta postura da CNBB. Ela procura afirmar sua identidade em coerência com os princípios teológicos que a fundamentam. E procura planejar suas ações, de acordo com os postulados da missão recebida.

Os dois temas centrais da assembleia deste ano, encontram fundamento na identidade e na missão dos bispos reunidos em assembleia. O tema da paróquia se insere mais diretamente na identidade eclesial, e o tema da questão agrária se insere mais diretamente na missão da Igreja.

Detendo agora o olhar neste tema sempre tão complicado da questão agrária em nosso país, é evidente que seria muito mais cômodo para os bispos, passarem ao lado desta questão, ou desviá-la, em tempo, de suas preocupações. Mas a missão de pastores, leva de novo os bispos do Brasil a se debruçarem sobre este assunto sempre tão complicado, que já mereceu na assembleia de 1980 um documento da CNBB, e que volta agora com novas realidades e novas preocupações dos pastores.

Na verdade, de lá para cá, a realidade agrária mudou muito, e apresenta novos desafios. Serão olhados pelos bispos na perspectiva de sua missão, que os impele a seguir de perto as angústias dos membros de suas comunidades, também os que se defrontam com dificuldades provenientes da estrutura agrária em nosso país.

Para dar-nos conta de sua complexidade, basta conferir a lista de situações, descritas no documento que está sendo debatido nesta assembleia. Ela se propõe ouvir o clamor dos “povos indígenas”, o clamor dos “quilombolas” dos “sem terra e assentados”, o clamor dos “ribeirinhos e pescadores”, dos “produtores familiares”, além do clamor das próprias cidades.

Não é que os bispos se julguem competentes para trazer as soluções dos problemas vividos por estas populações. Mas como pastores do seu povo, julgam, sim, do seu dever chamar a atenção de todos para estas realidades, e urgir sua solução, à luz de critérios éticos e de valores evangélicos.

Obs: Publicado em ADITAL em 29.04.14
O autor é Bispo Emérito de Jales.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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