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Aconteceu numa esquina de minha cidade. Tudo para ser encontro casual, mas o evento revelou verdade quase despercebida. Um policial conversava com um juiz, quando ambos foram interpelados por um professor. O professor, sem pretensão de diálogo filosófico ou de outra natureza, chegou junto a ambos com a intenção de cumprimentá-los.
O policial, conhecido dos dois, disse:
– Cuidado, juiz, este professor é um sujeito perigoso.
O professor nada entendeu. O juiz respondeu:
– Todo bom professor e todo professor que se valoriza é sempre perigoso. Sempre instiga nos alunos e na sociedade a inquietação, prima-irmã da indignação. A indignação pode nos remeter à necessidade de mudanças e, talvez por isso, professores sejam sempre perigosos.

O assunto se encerrou por aí, mas o universo das lembranças dos três conspirou para que a reflexão continuasse, semelhante a um evento que deixa rastros de luz e estranhamento que relutam em ficar restritos a quem o promoveu. Este é o caso que me leva a esta reflexão.

Nem sempre os professores tem a dimensão do seu poder, seja na vida das crianças, jovens, adolescentes e adultos ou seja a partir do que representa a sua profissão e os seus posicionamentos diante da vida, do mundo e da sociedade. Os professores, muito ocupados com suas tarefas, funções e atribuições nem sempre dedicam devido tempo para pensar sobre o que fazem.

Fato é que, de forma desinteressada e desmedida, professores e professoras são grandes referências na infância e juventude de nossa gente. Seus conselhos, seus gestos, suas palavras, sua disponibilidade para compreender o universo infanto-juvenil constituem habilidades que ensejam poder de mudar, poder de influenciar, poder de libertar. Não é um poder assustador e nem preponderante, mas é um poder humanizador, motivado pelo desejo de promover os sonhos, as capacidades e as potencialidades das crianças e jovens, em formação.

A educação, tendo como protagonistas o educando e o educador, não tem poderes para mudar o mundo. “A educação muda as pessoas, e pessoas mudam o mundo”. A força do professor/educador está na relação que o mesmo consegue estabelecer com seus educandos, fazendo-os sempre enxergar para além das aparências, do imediatismo, do superficial, do irrelevante. Quem gosta da profissão, torna-a significativa para si e para aqueles que são sua companhia. O perigoso dos professores e das escolas é que estes tem a possibilidade concreta de realizar processos: um dia após outro, conteúdos que se relacionam, conhecimentos que se cruzam, métodos que permitem aprofundar e sistematizar a informação que vira conhecimento. O mundo, modo geral, torna a vida uma sequência de eventos: desconectados, sem continuidade e sem amarração. Alguns eventos melhores do que as aulas, só que sempre passageiros.

A vida humana exige relação, amarração, processo, síntese, acúmulo, reflexão, continuidade. Por isso mesmo que professores que acreditam na humanização das pessoas a partir do conhecimento tornam a sua ação educativa diferenciada; talvez por isso poderosa. A vida não se esgota em eventos, mas os eventos esgotam seus sentidos quando acabam! Viver é sempre costurar os diferentes sentidos da existência, a partir dos aprendizados de todas as experiências que fizemos.

Obs: O  autor é professor, escritor e ativista em direitos humanos, desde Passo Fundo, RS.
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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