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A aplicação do Direito envolve aspectos éticos e políticos que o saber jurídico sozinho não é capaz de enfrentar. Por este motivo, o debate do tema não se limita àqueles que integram o mundo do jurista.
Quando há um atrito entre a Lei e o Direito, tem-se uma questão ética, um choque de valores e não uma questão meramente jurídica e muito menos uma questão apenas legal. As decisões valorativas não estão no domínio da lei, estão no domínio da Ética. Entre dois valores, – a Ética nos guia, – devemos decidir pelo valor de maior hierarquia. Entre o culto da lei e o culto do Direito, o valor de maior hierarquia é o culto do Direito.
A supremacia do Direito sobre a lei pura e simples não dispensa o jurista de ser sábio e prudente. Muito pelo contrário. Essa prudência é imperativa. Busque-se, sem dúvida, primeiramente, examinar o caso a decidir sob a luz de uma visão interpretativa aberta. Na maioria das hipóteses verificaremos que a lei, interpretada com sabedoria, pode conduzir à visão suprema da Justiça a que se refere o jurista italiano Carnelutti.
O bom intérprete busca encontrar caminhos para harmonizar a roupagem da lei com o bem comum e as exigências de Justiça que devem ser seu escudo. Jamais chegará à conclusão de que a lei o obriga a ser injusto.
A lei estará sempre subordinada ao Direito. Esta submissão da lei ao Direito deve ser a diretriz que ilumina a vida jurídica.
Mas a esta afirmação pode a inteligência curiosa objetar: onde fica, nesse dilema, a segurança jurídica?
A Justiça e a Segurança Jurídica são dois valores essenciais a serem preservados.
O ideal seria que um sistema jurídico proporcionasse o máximo de Justiça e o máximo de segurança.
Na dinâmica da vida jurídica, pode haver e há com frequência um choque entre esses dois valores. A Justiça para o maior número pode comprometer a segurança de alguns. Exemplo: a Justiça distributiva pode impor a uma parcela de cidadãos a restrição à posse, propriedade ou uso de determinados bens, reduzindo o grau de segurança jurídica.
A segurança jurídica, entendida como senha protetora de privilégios seculares, é sempre invocada contra os direitos daqueles que também secularmente foram órfãos da ordem jurídica vigente.
Uma das funções do Direito é preservar a segurança. Contudo jamais se deverá, em nome da segurança, consagrar a injustiça.
Com razão, no ensino bíblico, a segurança não é um valor autônomo, mas tem uma base axiológica, ou seja, a segurança é fundamentada num valor que a antecede: a equidade. Encontramos essa lição no capítulo 32, versículo 17, do Profeta Isaías:
“O produto da Justiça será a paz; o fruto da equidade, perpétua segurança.”
Obs: O autor é magistrado aposentado (ES), escritor, professor, palestrante.
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