Em princípio, parece bonita. Analisada peça por peça, percebe-se ser alta, magra, pernas finas, testa estreita, a fazer contraste com o nariz comprido e a boca grande. Em consequência,  matematicamente falando, não é. A foto, bem trabalhada, ela de perfil, a boca meio aberta, os olhos fixos em algum ponto, sedimenta a impressão de ser bela. Contudo, não obtém nota alta em nenhum requisito isoladamente considerado. No conjunto, é plenamente aprovada, ou por obra e graça da foto, ou por algum charme escondido, que a torna graciosa, embora navegue a quilômetros de distância da perfeição corporal das estátuas gregas, sobretudo no requisito rosto.

Pode ser que, à época em que o artista esculpia na pedra o rosto e o corpo da mulher, escolhia modelo a dedo, procurando perfeição no formato, independentemente de deixar escapar um certo gosto por uma pequena saliência na barriga, como se fosse uma atração que o primeiro escultor teve e os demais, cegamente, o copiaram. Entre as estátuas de deusas gregas e os modelos, que hoje, neste exato século vinte e um, pousam nas propagandas estampadas nas revistas do ramo, há uma brutal e conflituosa diferença, em tudo que se possa incluir no pacote das formas.

O cotejar a beleza feminina nas estátuas gregas e a beleza feminina, que hoje se explora, a diferença salta aos olhos, na adoção da mulher feia – esteticamente encarada -, e na sua transformação, mercê da posição que o fotógrafo escolha e aponte, em mulher, não diria bonita, mas essencialmente atraente, pelo ar de inocência que lhe confere uma tonalidade ao mesmo tempo casta e sensual, o olhar que reflete o aberto botão e a entre fechada rosa, na dicção do poema machadiano, na alteração do modelo tradicional, reservando a beleza grega exclusivamente as salas dos museus de história, colocando, em seu lugar, na rua e nas propagadas,  uma mulher totalmente diferente.

Talvez a natureza não tenha mais sabido fazer a mulher tipo Marta Rocha. Ou, para mudar de gosto, optado por um conjunto arquitetônico mais simples.  O certo, como verdade de fundo, é que a mulher permanece no pólio de tudo. E deve continuar. E vai continuar. Assim seja. Amém. (17 de janeiro de 2017)

Obs: Publicado na Folha de Pernambuco
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.     

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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