Irandi Santos 1 de julho de 2017

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Nasci com ela, era um ingazeiro, com ela dei meus primeiros passos, era meu único colega de infância. Ao acordar, antes do café da manhã, dava-lhe bom dia aguando-lhe o caule.
Crescemos juntos e quando já tínhamos dez anos, subia em seus galhos, e era acariciado pelas suas folhas saboreando seus doces favos. Infelizmente fomos obrigados a nos separar, passei dez anos na cidade, voltei com vinte anos, fui correndo visitar a velha companheira de infância, e ao chegar a ribanceira do rio, não conheci o lugar, estava tudo modernizado: pontes, jardins, indústrias; e apenas um tronco grotesco, resto de uma vida vegetal que servia de berço para diversas vidas microbianas, e eu pensei… a minha velha amiga morreu, chorei, chorei porque tinha muito amor por ela, foi minha irmã ou meu irmão que nunca tive nesta vida animal.
Depois de tanto tempo de separação, eu queria senti-la, subir em seus galhos, deliciar seus frutos, recordar minha infância.
Seria capaz de dividir minha vida com ela para ficarmos juntos outra vez, porém era um tronco seco que se transformava em pó, e eu pensei… futuramente também me transformarei, e talvez em outra vida sejamos companheiros de viagem, porque a vida é uma estada aqui na terra, talvez nos jardins do céu, ela esteja frondosa esperando por mim para recordarmos nossas vidas.
Não será resto vegetal, será minha infância, minha amiga: a Velha Árvore.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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