Frei Adolfo Temme 15 de junho de 2017

(do finado Pedro)

1.Eu estava tão doente, com o peso abatido.
Não sabia o que fizesse, mas não dava um gemido.
Eu perdia os amigos que se iam afastando,
mas um dia tiv’ um sonho, vi um caminhão chegando.
Este carro foi rompendo, invadindo o quintal,
pau e pedra arrancando. Fui na porta, dei sinal.

2.Encostou o caminhão, motorista foi mulher.
Reparei os viajantes, pareciam esmoler.
Estavam muito abatidos, com o rosto tão sofrido,
com a roupa maltrapilha, fiquei muito comovido.
A carrada dos doentes estava tão desfigurada,
o olhar estava fundo, era gente maltratada.

3.A mulher desceu do carro, era linda que só ela.
Perguntou a minha esposa: Você tem muita panela?
Traga xícara e vaso, eu preciso um bocado,
pois eu vou fazer remédio para basso inflamado.
Minha esposa respondeu que não tinha infelizmente.
A mulher se despediu e voltou com os doente.

4.Acordei do pesadelo, o juízo atordoado
e falei pra todo povo: o meu dia está marcado;
eu já vi o meu despacho, minha vida está no fim.
A conversa se espalhou: não tem jeito para mim.
Finalmente um professor enviou-me um recado,
afirmando que o sonho era mal interpretado.

5.Na mulher que você viu que chegou no caminhão,
a Saúde ti visita, acredite, meu irmão.
Antes de passar três dias o remédio chegará
ou então um copo d’água o teu mal afastará.
Apesar da Boa Nova eu falei no outro dia:
Não demor’ uma semana vou morar na terra fria.

6.No segundo dia à tarde visitei uma mulher
que falou que conhecia um Senhor Júlio Bazé
que fazia garrafada combatendo a doença.
Escutei esta conversa sem um mínimo de crença.

7.No terceiro dia à tarde antes do dia findar
Aparece o tal de Júlio lá em casa a me saudar.
Me olhou e disse assim: o seu basso é inflamado.
Compr’ um kilo de açúcar e em breve está curado.
Achei graça, pois açúcar já comi mais de arroba;
eu fiquei desconfiado, achei a conversa boba.

8.Mas o homem continua: quero te aconselhar,
caça jurubeba branca que é pro fígado curar
e do pajeú a casca que é pro basso inflamado,
tudo isto é moído e no fogo cozinhado.
A mulher lá na cozinha juntou vaso e panela.
Recordei-me do meu sonho, da mulher alta e bela.

9.Fui buscar o qu’ ele disse e mandei fazer remédio.
Quando comecei beber, me abandonou o tédio.
Não foi médico do mundo que me receitasse, não:
foi a Bela que no sonho dirigia o caminhão.
Conheci que a Saúde me havia visitado.
Estou contando a história pra dizer muit’ obrigado.

Relato: Pedro Neco
Versos: Frei Adolfo

Obs: O autor é  Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrólis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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