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A grita “Fora Temer” é geral. A única exceção é o grafiteiro que, em letras garrafais, escreveu no muro do cemitério: “Dentro Temer”…

Enquanto o governo acelera seu pacote de maldades, adornado com as reformas trabalhista e previdenciária, o povão torce o nariz (71% contra a reforma da Previdência) e as pesquisas eleitorais, de olho em 2018, apontam os candidatos preferidos, com Lula na cabeça.

Antes de debater quem sucederá a Temer, convém decidir se os eleitores vão cantar desde agora, com Vandré, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, ou ficarão de braços cruzados diante da eleição para o Congresso e, em 2019, escutarão deputados e senadores fazerem eco a Belchior: “Ainda somos os mesmos!”

Sim, há que se iniciar a campanha eleitoral hoje! Contudo, sem o erro de se centrar em nomes de possíveis candidatos. O que importa é a proposta que encarnam. Em que medida são confiáveis para efetivar o projeto de Brasil com o qual sonhamos.

Debater nomes, e não propostas, é ceder ao fisiologismo ou ao descabido messianismo. A esquerda brasileira, fragilizada pela falta de ética de alguns de seus líderes e pelos equívocos do governo do PT, não logrará eleger o presidente em 2018 se não fizer autocrítica, redefinir-se diante das questões éticas e unir-se em torno de uma proposta programática corrente.

Se assim não for, o Brasil corre o risco de ver na presidência um simulacro de Temer. E ainda que isso ocorra, se a esquerda não tiver projeto será induzida ao desânimo e ao esfacelamento, como ocorreu na Europa após a queda do Muro de Berlim.

Há militantes de esquerda que, apegados fisiologicamente a seus partidos, buscam de fato na vitória eleitoral uma oportunidade de alçar a bons empregos na máquina pública. Esses são prescindíveis. Imprescindíveis são os que lutam por transformar radicalmente as estruturas do país e conquistar a democracia de fato.

Ora, esses últimos são os que mantêm vínculos orgânicos com os movimentos sociais e procuram organizar a esperança. Não bastam manifestações de protesto e mobilizações de repúdio. Sem propostas, trabalho de base, formação política, a esquerda no governo correrá o risco de agarrar o violino com a mão canhota e tocar com a direita…

Mais importante do que vencer uma eleição é tornar viável um projeto histórico. E isso requer muita resistência e persistência.

Obs: Frei Betto é escritor, autor de “Reinventar a vida” (Vozes), entre outros livros.

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