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Meus queridos amigos
Pensem em algumas das nossas árvores centenárias, por exemplo, pensem em alguma grande e bela mangueira e escutem esta meditação: Gosto de ver-te árvore centenária, cheia de rebentos e de ramos, como se fosse ainda adolescente… Ensina-nos o segredo de envelhecer assim: abertos a vida, a juventude, aos sonhos, como alguém que sabe que juventude ou velhice não passam de etapas para a eternidade.

Quando entramos no mês de junho, aqui no Nordeste, penso no teste de idade revelado pelos fogos de Santo Antônio, São João e São Pedro. Quando se é criança, os fogos são tanto mais formidáveis quanto mais barulhos fazem. Quem foi que não jogou fogos dentro de latas, para que o estouro fosse maior ainda?…

Quando chega a juventude, em geral, não se vai mais colocar fogos dentro de um regador, mas quanto aos estrondos, eles costumam ser plenamente entendidos e aceitos. Quando começa a irritação, quando se começa a dizer que não há tímpano que suporte, quando se explora o máximo o perigo dos fogos, mau sinal: a mocidade está fugindo e a rabugice chegando…

Tenho pena de nordestino que não sabe mais descobrir a beleza e a riqueza dos simbolismos dos balões. Tenho pena de quem, nos balões, só descobre perigo ou sinal de atraso e de provincianismo. Se eu pudesse ir soltar um balão em Paris, da Torre Eiffel, ou em plena 5a Avenida de New York…

Tomem um banho de juventude. Vejam com os olhos de ontem a soltura de um balão. Quando ele ganhar altura, reparem o cuidado com que os grandes aviões evitam atropelá-los e, sobretudo, reparem, com que simpatia e carinho, as estrelas e a lua acompanham a viagem corajosa dos balões, confiantes em sua marcha!

Tenho pena de quem vai desentendendo, sempre mais, os jovens de hoje. Há frases que cavam valados na direção dos jovens:

— No meu tempo não era assim!

— Logo você que faltou berço!

— Faltou chá em criança…

— Acabou-se a música para esta gente: é tudo no grito selvagem!

— Acabou-se a dança: é tudo na histeria da discoteca…

Atenção, queridos amigos menos jovens. Peçamos, de verdade, as mangueiras centenárias que nos ensinem a envelhecer, abertos a vida, a juventude, aos sonhos! Que nos ensinem, sobretudo, a não perder contato com os jovens de hoje, para que tenhamos a graça de conservar, no mais íntimo do íntimo, juventude perene!
Quarta-feira, 11.6.1980

Obs: crônica escrita por Dom Helder Camara, especialmente para o seu programa UM OLHAR SOBRE A CIDADE.
.Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item  OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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