www.mariainezdoespiritosanto.com

A luz da manhã de dezembro me indica o caminho…

Os portões, abertos pela afinidade que já formalizei, estão escancarados e eu entro, sorrindo alto,  para as palmeiras imperiais, que acenam a minha passagem…

O cheiro morno das flores e frutos dos abricós-de-macaco, me lembra o norte brasileiro, cheio de mistérios e sensualidade… Caminho nas aléias, entre eles, um tanto Mário de Andradeante…

Depois, as “canoas” que se desprendem dos troncos das palmeiras, caídas sobre a grama, me lembram possibilidades: são fruteiras, são tigelas e já foram até embarcações de oferendas à mãe das águas, num reveillon às margens do São Francisco, cheio de ternura e encantamento…

Mais tarde, o jacu passa vaidoso, mexendo e desafiando conhecimento e experiência. De onde aquele papo vermelho e aquela cauda emplumada?  Qual é a desse bicho, que desfila tão íntimo, sem se importar com quem o olha, sem vaidade, mas cheio de afirmação, ensinando auto-estima?

E aí, explode uma cantoria de pássaros tantos, que é impossível distinguir suas vozes. Mas é tão harmonioso o conjunto de cantares, alternando-se num provocar e num responder, que é irresistível parar e ficar só de ouvinte… Maravilhoso diálogo, de dimensões inalcançáveis!  Chego a ouvir, na sinfonia, a essência de mestre Jobim e pressentir seu riso de menino travesso imitando  os passarinhos. Será?

O chafariz faz cenário e lá do fundo transmuta a luz nos jatos da água cristalina. Frescor que invade e lava a alma e leva muito longe qualquer amargura. As musas suportam a enorme bacia e oferecem prismas novos.  Assim, o verde se multicolore, esparramando ao redor uma profusão de formas que ilumina tudo como num sonho…

Então, o tempo se torna em outrora e me vejo, muito tempo antes,  ao lado dos primeiros que passearam sob essas trepadeiras. Comovida,  me invade uma enorme sensação de gratidão.

Em seguida, curvo-me frente ao rei, que surge majestoso no caminho e D. João sorri tão largo, que me parece quase bonito o rosto que sempre vi como estranho nas pinturas antigas. Era mesmo D. João ou será Papai Noel disfarçado?

Logo a fala das crianças me tira do momento de magia e me vejo, emocionada, repassando

com os olhos o sítio a meu redor. Tudo tão belo! Tão fácil ficar contente num lugar assim!

Que enorme fortuna se estende aqui, como tapete mágico, de tão fácil alcance!

Um presente maravilhoso esse que a história reservou para nós, cariocas, ao nos fazer guardiões do Jardim Botânico!

Obs. Julia Cameron, autora de um excelente trabalho sobre Criatividade, propõe que realizemos Encontros com nosso Artista Interior. São momentos assim, em que deixamos que nossa alma descubra, ao redor, sua linguagem.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]