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1 – A Paz, a Missão e Dom do Espírito
João 20,19-23

No diálogo com a Samaritana, junto ao poço de Jacó, por volta do meio dia, sol a pino, a certa altura de uma tensionada conversa, Jesus lhe responde, com imenso amor e paciência: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu lhe pedirias e ele te daria água viva” (Jo 4,10).

O Ressuscitado, hoje, nessa Quinquagésima pascal, nos espera sedentos e famintos da Justiça do Reino, para, mais uma vez, nos dar os parabéns, declarando-nos “bem-aventurados!”, “felizes!”. A sede que ele suscitou na Samaritana, ele a veio, de novo, despertando em nós, desde o início da Quaresma. A alegria do Tempo Pascal, de repente, a cada domingo, sobretudo após a festa da Ascensão, só deve ter atiçado esta sede mais e mais. E hoje Ele quer saciá-la ao comunicar-nos sua PAZ!

Que paz será essa, em meio a uma conjuntura tão adversa, carregada de tantas incertezas e angústias, como esta que estamos atravessando?…

Com certeza, não será a paz de quem “deixa como está, pra ver como é que fica”… dos que não movem uma palha para ver o mundo melhorar, inclusive, porque praticam uma religião que só promete o que é bom para depois da morte, no céu…

Muito menos, será a paz dos que calculam e garantem seus lucros, vantagens e privilégios, mesmo quando tanta gente vive à margem da estrada da vida, assaltada por um sistema que lhe rouba o mínimo de que precisa para viver com dignidade e bem-estar.

Como não será a paz dos homens públicos, que se aproveitam das facilidades do poder para roubar o dinheiro do povo, em vez de cuidar das políticas públicas e das obras de infraestrutura que possam proporcionar ao povo os bens essenciais a que têm direito. O que aconteceu em Pernambuco, por exemplo, com as barragens que foram planejadas, após as inundações devastadoras de 2010, para conterem a força das águas e livrarem o povo de tanta destruição, sofrimento e morte, e apenas uma ficou pronta, voltando, agora, a acontecer a mesma calamidade de 7 anos atrás?…

Daí porque, tem mais sentido hoje do que nunca, escutarmos o Ressuscitado, aqui e agora a nos convocar: “Como o Pai me enviou também eu vos envio!”. E recebermos d’Ele, de novo, o sopro do Espírito da Criação, com a tarefa, nada fácil, mas urgente, de enfrentar o pecado do mundo, perdoando, em nome de Jesus, a quem se arrepende de seus maus caminhos e se converte à proposta do Reino da Justiça e da Paz… e condenando quem insiste em continuar sentado nos tronos da opressão, acumulando riquezas injustas, às custas da miséria dos outros.

Depois de um Mês Mariano celebrado com tanto fervor, devoção e alegria é hora de nos colocarmos como Maria, à disposição de Deus, na força do Espirito, para a realização das maravilhas do seu Reino “assim na terra como no céu”. Fora todos “os que têm planos orgulhosos no coração”! Fim à todo poder opressor! Fim a toda acumulação injusta de riqueza! Que os humilhados recobrem a sua dignidade! Que os famintos sejam saciados com todos os bens a que têm direito! Que as antigas promessas de Deus se cumpram. Que cheguemos, quanto antes, à Terra Prometida de nossos sonhos, terra onde corre o leite da Justiça e o mel da Paz! Para nós cristãs e cristãs, esse é o sentido maior de nossa participação nas manifestações e lutas de todo o povo nas ruas e praças de nossas cidades. Essa é a dimensão maior de nossa solidariedade com as vítimas das enchentes e de todos os descasos e egoísmos dos ricos e poderosos.

2 – A FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE
João 3,17-18

As Comunidades Eclesiais de Base, desde o Intereclesial de Trindade – GO (1986), nos têm ajudado a encarar a Santíssima Trindade com um novo olhar: mais que um “mistério” incompreensível, uma revelação: “A Santíssima Trindade é a melhor Comunidade”.

Espelhar-se em Deus, não tanto como o Infinito, o Absoluto, o Eterno, mas como o Encontro mais perfeito de Pessoas, autônomas e livres, que se amam a ponto de comungarem do mesmo ser, da mesma vida sem fim, o Pai e o Filho, na amorosidade do Espírito Santo, um só Deus…

E o melhor: saber que se chegam para junto de nós e nos convidam a participar da sua intimidade, da sua amorosa convivência, é algo maravilhoso!

E a consequência dessa experiência poderá ser, de repente, seu transbordamento, sua multiplicação, em todos os espaços e ambientes onde convivemos com outras pessoas: uma busca permanente de comunhão, de harmonia; o prazer do encontro, o gosto da amizade, a alegria da fraternidade.

Eis aí a essência da nossa experiência litúrgica, todo domingo:
Podermos celebrar nossa comunhão entre nós, pessoas humanas, com as Três Pessoas Divinas, sonhando com um mundo de harmonia e paz!

E como isso é importante, para nós, Classe Trabalhadora, sobretudo, em dias desafiantes como os que estamos passando, quando a reconstrução da DEMOCRACIA necessita tanto da nossa união, da mobilização popular, da soma de todas as forças progressistas! 

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965).      

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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