- Domingo da Promessa do Espírito
João 14,15-21
Acolher o que Jesus, hoje, nos promete é uma questão de sobrevivência.
Os dias não andam fáceis. A conjuntura está mais para terremoto ou tsunami ou apocalipse. Nada que se pareça com uma certa definição de paz: “Tranquilidade da ordem”. Todos os poderes da República transpiram instabilidade, inconsistência, falta de credibilidade, vazio de representatividade e autoridade.
Como cidadãos e cidadãs, olhamos perplexos para este cenário. Por onde andamos, é como se estivéssemos caminhando sobre areia movediça. O sentimento é de tontura, de vertigem. Parecem faltar balizas, arrimo onde se agarrar.
Talvez se possa enxergar uma luz no fim do túnel ao nos depararmos com o povo nas ruas. Nas manifestações populares que, há algumas semanas, vêm se multiplicando por toda parte, sobretudo nas que vêm ocorrendo após as mais recentes notícias, e mais ainda nas que estão sendo anunciadas para a semana que vem (dia 24, ocupar Brasília!), há alguma coisa no ar, uma força maior, que importa intuir, seja com a sabedoria da História, seja com a luz da Fé. Seja com ambas.
Daí porque, o Evangelho que estamos escutando neste 6º Domingo de Páscoa, providencialmente, nos chega com a atualidade de um facho de luz em plena escuridão. Como cristãos e cristãs, com corações agradecidos, sintamo-nos privilegiados, por, em momentos como este, poder contar com tal auxílio: o Ressuscitado que nos vem ao encontro, nos assegurar sua presença, nos garantir uma assessoria maior, o seu próprio Espírito! Trata-se nada menos que do “Espírito da Verdade”, que “permanece junto de vós e está em vós”! Abrir-se para a ação do Espírito, acolher “os mandamentos” de Jesus, seu projeto de vida, o Reino por ele anunciado, experimentar num momento de desalento e angústia como este, a intimidade com Jesus e seu Pai, Deus- conosco, é tudo o que precisa acontecer.
O restante vem por acréscimo: como cristãos e cristãs, sermos junto às massas que se manifestam, uma presença lúcida, testemunhas corajosas e coerentes do Reino… sal fertilizante, luz aclaradora e fermento de transformação, dispostos e dispostas, como nos sugere o primeiro dos antecessores de Papa Francisco, o Apóstolo Pedro em sua 1ª Carta: <<Não tenhais medo de suas intimidações, nem vos deixeis perturbar. Antes, declarai santo, em vossos corações, o Senhor Jesus Cristo e estai sempre prontos a dar a razão de vossa esperança a todo aquele que a pedir>> (1 Pd 3,14b-15).
- Festa da Ascensão do Senhor<<Hoje, nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu: suba também com ele o nosso coração.
Ouçamos as palavras do Apóstolo: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às terrestres” (Cl 3,1-2).
E assim como ele subiu sem se afastar de nós, também nós subimos com ele, embora não se tenha ainda realizado em nosso corpo o que nos está prometido.
Cristo já foi elevado ao mais alto dos céus; contudo, continua sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros.
Deu testemunho desta verdade quando se fez ouvir lá do céu: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9,4). E ainda: “Eu estava com fome e me destes de comer” (Mt 25,35).
Por que razão nós também não trabalhamos aqui na terra de tal modo que, pela fé, esperança e caridade que nos unem a nosso Salvador, já descansemos com ele no céu? Cristo está no céu, mas também está conosco; nós, embora não possamos realizar isso pela divindade, como ele, ao menos podemos realizar pelo amor que temos para com ele.>> Santo Agostinho (Se. V – Sermão sobre a Ascensão, LH II, p.828s.)
Essas palavras de um santo bispo de 16 séculos atrás, podem nos inspirar, ainda hoje, no sentido de vivermos plenamente a nossa “cidadania” celeste, já aqui, nesta terra de tristezas e tribulações.
Precisamos dar conta do que pedimos todo dia a Papai do Céu: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”!
Importante e urgente é demonstrar por nossas atitudes e ações que o “céu” pode começar aqui e agora.
Com os corações ligados no Cristo Jesus, que está sentado à direita do Pai, mas está sempre conosco, “até o fim dos tempos”, por respeito à nossa dignidade e por solidariedade para com todos os nossos irmãos e irmãs, sobretudo, os oprimidos e excluídos, façamos tudo quanto estiver a nosso alcance para que os direitos de todos sejam respeitados, haja justiça, paz e felicidade para todos. E o céu já começará nesta terra, pois o Reino de Deus já estará “vindo” e se realizando entre nós.
Imaginem se toda pessoa “cristã” vivesse cada dia, cada instante, como dia, como instante de fazer acontecer o Céu nesta TERRA, aqui e agora! Mãos à obra!
Como cantou alguém, um dia, muito bem:
“Depende de nós
Se este mundo ainda tem jeito
Apesar do que o homem tem feito
Se a vida sobreviverá” (Ivan Lins)
Quando se chega ao fundo do poço, só resta uma opção: subir!
Parece que chegamos a esse ponto. A Ascensão parece ser “o convite”.
Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965).