Foi surpreendente a participação no Congresso Teológico Continental, realizado nas dependências da Unisinos, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. A expectativa era de trezentos participantes. Mas o número chegou a 750, e não foi maior por motivo de espaço no salão das conferências.
Foram cinco dias intensos, com programação para cada dia, alternando grandes conferências de manhã e de noite, com oficinas temáticas, painéis diversos, e apresentação de trabalhos teológicos na parte da tarde. Todas as atividades sempre precedidas de momentos de espiritualidade, que aconteciam também nas celebrações litúrgicas em horários antecipados.
Um clima de grande interesse, de atenção às temáticas apresentadas, e de esforço de captar bem a caminhada feita por beneméritos teólogos e teólogas da América Latina, sobretudo a partir do processo de renovação conciliar, que encontrou por aqui uma generosa acolhida, mesmo em meio a contrariedades, que acabaram caracterizando não só a renovação eclesial, mas também uma teologia própria, que procurou acompanhar e dar respaldo à caminhada eclesial em nosso continente.
As datas simbólicas que motivaram a realização deste Congresso Continental situavam bem o processo de caminhada conjunta, entre renovação eclesial e reflexão teológica. O Congresso se situou na marca dos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano Segundo, e dos 40 anos da publicação do livro do Pe. Gustavo Gutiérrez, Teologia da Libertação, que acabou dando nome à teologia latino americana que procurou “dar as razões da esperança” deste Continente.
Olhando com serenidade este processo de busca de sintonia entre vivência eclesial e reflexão teológica, se chega a uma constatação simples, mas profunda. Toda caminhada eclesial necessita do respaldo de um processo de reflexão, que ofereça referências consistentes e motivações autênticas. Toda caminhada própria de Igreja requer uma teologia própria, que dê razões adequadas para as situações que interpelam a fé e pedem o suporte da razão.
Assim dá para dizer que fazia o Cristo, de acordo com os relatos do Evangelho. Com frequência ele explicava em particular as parábolas aos seus discípulos, ou se retirava à parte com eles, instruindo-os melhor a respeito do Reino.
Assim fizeram Paulo e Barnabé, quando se detiveram um ano inteiro com a comunidade de Antioquia, dando fundamento consistente à incipiente vida eclesial, que em seguida se tornaria ponto de partida para a missão no império romano.
Assim fizeram nos primeiros séculos da Igreja, aqueles que hoje chamamos de “santos padres”, que sentiram a necessidade de respaldar a fé cristã, que estava tomando forma explicita, com o suporte da razão.
Daí resultaram os primeiros grandes tratados de teologia. E´ bom conhecê-los, não só porque iluminam ainda hoje nossa fé, mas para nos incentivar a fazer como eles fizeram: na medida que percorremos novos caminhos, e enfrentamos novas dificuldades, precisamos refletir, colocando em ação a capacidade humana que Deus nos deu para pensar, e desta maneira fazer brilhar melhor a fé, que continua iluminando também as realidades próprios de nosso continente.
A urgência de pensar a fé, a partir de nossa realidade, à luz da Palavra de Deus, em comunhão eclesial, foi certamente um recado precioso deste grande Congresso Teológico.
Neste contexto soam bem as palavras de João Paulo II, em carta dirigida à CNBB, em abril de 1986, afirmando bem claramente que “a teologia da libertação é não só oportuna, mas útil e necessária”.
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.