Saudades infinitas de você.
Meu coração desconhece meu viver.
Bate tão docemente que parece da vida se esquecer.
A cada segundo uma lembrança do que não foi vivido,
Apenas pensado.
Sou pura volúpia, poesia.
Você preenche o vazio do meu ser.
Sou o invólucro do amor esvaziado,
Tão longínquo algumas vezes,
Outras, tão próximo.
Amor e ódio reversos de um sentimento.
Ódio se esvai em borbotões,
Amor se concentra no pólen das flores.
Os espinhos outrora espetavam,
Hoje são pétalas translúcidas.
As luzes do nosso viver esmaeceram.
As trevas cobriram-me de negro.
Sou transeunte de um mundo oco.
O vazio engrandeceu-se.
A alegria minguou, diluiu-se.
Já não sou.
Fui.
Não espero ser.
Transmudo-me em pequenos seres
Em busca de um único.
Que dor, pavor, terror.
Sou apenas a lembrança tênue
De mim mesma.
Esfacelo-me em muitas.
No âmago do meu ser,
Sou única.
Vou em direção alguma,
Para chegar a nenhum lugar.
A caminhada regride.
Eu prossigo no vácuo.
Meu silêncio é indefinido.
Sigo imóvel na mobilidade da vida.
Nada acontece.
O nada se rompe.
Espatifo-me diante do silêncio do mundo.
A vida se estilhaça.
Eu também.
Minhas carnes se dilaceram.
Sangram, choram o passado.
O instante é longo.
Nada tem cor.
O prazer se descolore.
Passa…
Designa-se sem saber.
O falar emudeceu.
A palavra sumiu dos lábios.
Trasladou-se.
Em que boca pousou?
Reconheço a ausência de mim mesma.
A falta de ontem
Busca a presença de hoje.
Continuo sonâmbula.
Não compreendo este viver.
Todo vestígio de amor
É arrebatado, expulso.
Desempossada de mim,
Flutuo em busca do vácuo.
Este vazio protege-me.
Vivo.
Posso me reencontrar.
Sem expressão sorvo a fala.
As perguntas vagabundeiam
Na infinitude de respostas inexistentes.
Na monotonia deste viver líquido.
Estátua sem pedestal.
Tela sem pintura.
Fala sem voz.
Voz diluída em mim mesma,
Ser sem existência em hora morta.
19/ 04/ 17.
Obs: Imagem enviada pela autora.