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Nessa semana, a sociedade civil internacional retoma a reflexão sobre o cuidado com o nosso planeta e como evitar as mudanças climáticas que tantos problemas têm trazido ao mundo. Já há mais de 40 anos que a ONU assumiu o 22 de abril como “o dia internacional da Mãe-Terra”. Essa data não é iniciativa de nenhum governo e sim resposta  a uma preocupação cada vez mais comum a toda a humanidade. Ainda mais em nossos tempos conturbados, nos quais Donald Trump,  atual presidente dos Estados Unidos, declara que não se preocupa com Ecologia. Para mostrar como concretiza esse pensamento, ele anulou todos os tratados internacionais de cuidado com a natureza que o seu antecessor havia assinado. Também decidiu refazer a indústria extrativa de carvão que tinha sido paralisada pelos danos que provoca à terra e à natureza. Ao mesmo tempo, em grande parte da África, milhões de pessoas estão sofrendo com a pior seca das últimas décadas. Na República Democrática do Congo, para garantir a posse das grandes minas de diamante, empresas estrangeiras armam grupos locais em conflito. Africanos se matam uns aos outros em uma guerra civil que provoca milhares de vítimas, principalmente na população civil e entre mulheres e crianças.

O planeta Terra está doente e, dessa vez, somos nós, humanos os principais responsáveis. Esse modelo de desenvolvimento que a sociedade dominante continua impondo como único possível se baseia na destruição implacável da natureza para gerar mais lucro. No Brasil, desde o começo, governos e técnicos sabiam: a construção da hidroelétrica de Belo Monte tem como preço pior a destruição da floresta, prejuízo para o rio e para todo o bioma ali circundante. Além disso, as obras da hidroelétrica provocaram a desestabilização de diversas comunidades indígenas e dos ribeirinhos. Todas as estatísticas revelam que, na Amazônia, as queimadas e a destruição da floresta chegaram à maior proporção que tinham alcançado desde o começo dos anos 90. No Nordeste, em um rio São Francisco, com mais de sete metros abaixo do seu nível normal e com todos os sinais de estar moribundo, o governo continua o projeto da transposição. A publicidade é de que os canais feitos a preço de ouro servirão às populações locais. No entanto, os principais beneficiados serão as indústrias de agronegócio. Em Minas Gerais e no Espírito Santo, os efeitos da destruição que a Samarco provocou em todo o vale do Rio Doce não será revertido por várias décadas. Mais de quarenta outras mineradoras estão em operação em nosso território. Usam os mesmos métodos e acarretam para os rios e principalmente para as populações locais riscos semelhantes aos da região de Mariana.

A criação de postos de trabalho e benefícios a prazo curto levaram muitos governos latino-americanos a acolherem em seus países empresas mineradoras e a reduzirem ao mínimo necessário a legislação de proteção à natureza. Nas regiões mais distantes, mineradoras saqueiam a terra e a natureza sem se preocupar minimamente com os prejuízos ecológicos e humanos. Por isso, toda a sociedade civil internacional comemorou como uma vitória o fato de que, na semana passada, o governo de El Salvador assinou um decreto que proíbe a extração de ouro e de outros minérios em todo o território nacional (Cf. Revista Internazionale, 07/ 04/ 2017, p. 17). Quem sabe, essa vitória animará as entidades ecológicas, os grupos indígenas e as populações locais a ampliarem as lutas pacíficas que já existem e possamos, em breve, conseguir outras vitórias para a mãe-Terra.

Durante a Campanha da Fraternidade desse ano, a Igreja Católica no Brasil refletiu sobre a importância do cuidado dos seis biomas nacionais, todos em situação de risco. Nessa campanha, ficou claro que todos os cuidados com os biomas serão meramente paliativos, se não mudarmos os critérios de civilização que norteiam o caminho de nossas sociedades. É urgente assumir os paradigmas da sustentabilidade e do Bem-Viver coletivo como objetivos principais e prioritários dos governos e da sociedade civil. Esses critérios se baseiam não apenas em princípios ideológicos e critérios técnicos, mesmo se esses são sempre importantes. São propostas que se inserem nas tradições espirituais da humanidade e propõem uma verdadeira espiritualidade ecológica. Essa forma de crer e de orar na relação amorosa com a terra e o universo ultrapassa os limites das confissões religiosas. Abre-se a todos os caminhos espirituais e culturas. Um documento cristão do século II dizia: “Queres encontrar a Deus? Olha uma planta, ouve a voz de um animal, ou mesmo quando contemplas uma pedra,  poderás descobrir que ali está presente o amor que te gerou”.

Obs: O autor é monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares.
É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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