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Ontem, oitavo dia da Assembleia Geral da CNBB, ao acessar a Rede Vida para assistir a missa que antecede aos trabalhos diários dos 170 bispos brasileiros reunidos em Aparecida, fui tomada de perplexidade, ao ver estampada na tela da Rede Vida, propaganda do usurpador governo Temer, a favor das reformas demolidoras dos direitos e garantias constitucionais arduamente conquistados pelo povo brasileiro nos governos de Lula e Dilma, reformas essas que agora estão sendo impostas a ferro e fogo pelo governo Temer aos trabalhadores e a toda população.

Surpreendida e perplexa, custou-me acreditar que após as extraordinárias manifestações populares de adesão à greve geral, deflagrada pelos sindicatos de trabalhadores e movimentos sociais, oficialmente apoiada pela CNBB, que, inclusive, recomendou às dioceses e paróquias a convocar nas missas os fiéis a participarem da greve em defesa de seus legítimos direitos, que estavam na iminência de serem destruídos pelas reformas arbitrárias e autoritárias do ilegítimo governo Temer.

Não conseguia entender como uma emissora católica de televisão como a Rede Vida estava sendo usada para propaganda de reformas iníquas de um governo espúrio contra os interesses da população e em destruição de seus direitos fundamentais à educação, à saúde, ao emprego e às garantias sociais e previdenciárias, mesmo diante do  posicionamento e do efetivo apoio da própria CNBB às manifestações populares para barrar as tais reformas.  Estaria a Rede Vida sendo cooptada pelo governo Temer, em desobediência aos princípios evangelizadores sob os quais deveria pautar sua programação? Que benefícios teriam sido prometidos ou possivelmente auferidos para divulgar a propaganda enganosa desse governo? Estaria a Rede Vida vendendo-se ao capital financeiro, em detrimento de sua finalidade primordial que é a evangelização e a edificação  do Reino de Deus, através da Palavra e do ensinamento de Jesus Cristo?

A resposta a essas questões veio-me através do artigo intitulado ‘QUANDO OS CARDEAIS PRESTAM VASSALAGEM AOS PODEROSOS E TRAEM OS POBRES’, escrito por Mauro Lopes no blog Caminho para Casa, postado em 11 de outubro de 2016.

Também no citado blog o mesmo autor explica que os bispos no Brasil são conhecidos por suas posições moderadas ou progressistas: “Isso não quer dizeue os bispos progressistas sejam maioria – nem no período auge da Teologia da Libertação o foram. Continua a haver uma maioria moderada, silente, preocupada com o futuro da instituição e seu próprio futuro, representada pelo presidente da CNBB, o cardeal dom Sérgio da Rocha.  O polo dinâmico, progressista, alinhado ao Papa Francisco, tem sua liderança partilhada entre o secretário-geral da CNBB, o franciscano dom Leonardo Ulrich Steiner e os presidentes e principais dirigentes das pastorais sociais, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Pastoral Carcerária, Pastoral da Saúde e Caritas Brasileira – todos eles lançaram convocações à greve. Dentre os religiosos, os dominicanos, mais engajados durante a ditadura, cedem lugar aos franciscanos, com um protagonismo alegre e comprometido.  Nos momentos de maior compromisso  da Igreja com os pobres no país, houve uma composição entre os blocos moderado e progressista do episcopado”. E continua:

Dom Orani e dom Odilo: com Temer. no dia da votação da emenda de corte nos gastos sociais, em outubro de 2016. Foto: Beto Barata/PR

“Há um polo abertamente reacionário, comprometido com os interesses dos ricos. É liderado pelos cardeais do Rio, dom Orani Tempesta, e de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer. Não é coincidência que nem eles nem qualquer dos bispos auxiliares de São Paulo ou do Rio tenham se manifestado a favor da greve geral. Ambos foram os líderes da visita de um grupo de bispos a Temer, e não se cansam de manifestar simpatia ao governo golpista exatamente no dia da votação da PEC do Teto dos Gastos (que congelou os gastos sociais no país por 20 anos)”.

O fato é que, ao divulgar propaganda das reformas do governo Temer, em confronto com as disposições oficiais emanadas pela CNBB, que são contrárias às referidas reformas, a Rede Viva praticou uma desobediência aos ditames adotados pela Igreja do Brasil, representada por seu órgão máximo que é a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, além de cometer um grande desrespeito aos trabalhadores e a todos os brasileiros, que foram às ruas reivindicar seus legítimos direitos, os quais estão sendo literalmente cassados pela reformas de um governo ilegítimo e golpista.

Sem contar que o desrespeito da Rede Vida atinge em cheio os fiéis assistentes de sua programação, tendo em vista que a grande maioria desses é composta de trabalhadores, pessoas simples, carentes tanto financeira quanto politicamente, que não têm conhecimento suficiente para discernir e avaliar os prejuízos que lhes trarão as ditas reformas, publicadas pela Rede Vida, irresponsavelmente, sem levar em conta o compromisso com a verdade dos fatos.

Finalmente, a postura da Rede Vida, representou um desserviço, pois ao invés de informar corretamente o verdadeiro significado das reformas, aliou-se aos que vem destruindo os direitos dos trabalhadores, veiculando propaganda enganosa do governo Temer e assim desqualificando o apoio da CNBB ao povo brasileiro contra as deletérias reformas.

Obs: Imagens enviadas pela autora

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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