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Acho que podemos pensar que existem coisas na vida que a gente não escolhe. Por exemplo, nenhuma criança escolheu se nasceria em um útero de uma mãe cheia de dinheiro ou em um útero materno pobre e necessitado. Se nasceria de uma mãe carinhosa ou negligente.

Outra questão importante é se você tem um mínimo possível de sanidade mental para escolher e se responsabilizar pela sua escolha. Dizendo de outra forma: um louco que mata uma pessoa deve ser julgado da mesma forma que alguém que comete o mesmo crime, mas que, aparentemente não tem “algum” distúrbio mental grave?

A psicanálise e algumas vertentes filosóficas ainda dirão que, na maioria das vezes, nossa escolha não é consciente. Por isso precisamos tornar consciente nosso conteúdo interno para entendermos melhor o que se passa em nossa cabeça. Resumindo tudo isso: pensar sobre a escolha requer responsabilidade, consciência e possibilidade para fazê-la.

Atualmente, (mesmo que em parte, fantasiosamente), temos uma grande gama de possibilidades de escolha em várias vertentes da vida. Mas, por outro lado, passamos por incertezas políticas, sociais e profissionais. Por isso é tão difícil escolher. Não estamos conseguindo lidar muito bem com tantas informações e possibilidades vendidas a um preço caro a nós. Diante dessas situações, nos sentimos como uma criança em um parque de diversão: se desespera sem saber por onde começar a brincar.

Queremos uma mulher e ao mesmo tempo todas. Queremos ficar no emprego e no mês seguinte abandoná-lo. Queremos nos relacionar com alguém que tenha as melhores virtudes e que não venham nenhuma imperfeição ou defeito “junto no pacote”. Compramos objetos que logo em seguida estão na lata de lixo. Acordamos querendo ser agrônomos e dormimos sonhando em ser chefes de cozinha, engenheiros ou advogados. Rubem Alves cita que “a dor e a indecisão vêm quando há muitos pratos sobre a mesa e só se pode escolher um”.

Mas até aí, tudo bem. Esse desejo insaciável é inerente ao ser humano. Só para de desejar quem já morreu. A minha preocupação é que desejar não quer dizer que preciso e posso ter. Se eu tivesse tudo o que desejei na vida talvez não estaria mais aqui para escrever esse texto.

Não conseguimos ficar com tudo nem ter tudo. Esse é um dos nossos dilemas contemporâneos. Por puro hedonismo, nos esquecemos que cada atitude nossa, afeta o mundo inteiro. Ter essa mínima consciência dos efeitos das coisas que fazemos e pensamos e, a partir dela, tentarmos agir de forma a melhorar o mundo, e não só pensando em nós mesmos, chama-se maturidade.

Maturidade é a arte de escolher e assumir o que escolheu. Não é acertar sempre, mas tentar assumir sempre o que fez e considerou errado ou certo no momento. É você aprender que escolheu o cacho de uva e não a maçã e tentar ficar contente com o sabor da uva. Se não gostou do sabor, não culpe os outros porque está com a uva, pois entende que foi você mesmo que escolheu.

Olhamos as escolhas dos outros e achamos que eles não precisaram renunciar a nada para “estar onde estão”. Desejamos ser poetas, mas não queremos saber do sangue derramado para escrever a tão bela poesia. Ignoramos os anos de estudo dos professores e dos músicos profissionais, mas queremos o sucesso deles sem nos esforçarmos.

A melhor escolha começa pela arte de ser maduro. Maturidade leva tempo e dói, mas nos ajuda a pensarmos e agirmos para além de nós mesmos. E o mais interessante é que quando a pessoa pensa e escolhe para além do seu próprio umbigo, incrivelmente e mesmo sem perceber, esta acaba salvando a si mesma.

Obs:  O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagens  enviadas pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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