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12/04/2017 19h40

O problema era querer ser equilibrista e viver na mesma época de Kafka.

O problema era caminhar na corda bamba e ser observado o tempo inteiro por aquele sujeito alto, forte, e sorridente lá embaixo – porque ele, Kafka, era tudo isso, e não franzino, pequeno e triste.

O problema era saber-se objeto de contemplação do escritor inquietante de Praga, e perceber cada movimento sendo captado, sendo transformado em conto literário, conto que narra personagens circenses.

Josué assim sente, assim se emoldura. Ele sabe que de um lado a outro da corda bamba será transmutado em Pequena dor.

Pudera. Josué prefigura o que o personagem de Kafka preencherá, e, de repente, o equilibrista prova um gosto amargo na boca.

A mãe leva Josué ao médico. O pai procura a cartomante e ela prevê – que está próxima a queda do filho, o fim do equilibrista do circo Roskhóv.

Josué (Joshua) não aceita o seu destino. Atravessa a Praça da Staré Město, alcança o Relógio Astronômico, vai à Staroměstské Náměstí 22, e procura Franz (Frantisěk) Kafka. O primeiro se apresenta. O segundo convida a entrar. E sentam. E o chá é servido segundo os costumes da época.

A mãe de Kafka estranha aquele rapaz franzino, pequeno e triste que conversa com o filho na sala. Na realidade, o rapaz fala e o filho apenas toma notas numa caderneta de capa dura marrom.

O filho tosse um pouco.

A mãe se preocupa.

E pede ao rapaz franzino, pequeno e triste que volte um outro dia, quem sabe eles conversem uma outra hora sobre o problema que precisam resolver.

Mas ainda não.

Kafka, quando vê a mãe caminhando para a sala, adianta ao personagem:

– Da próxima vez em que atravessar a corda bamba, olhe para baixo como se fosse a última vez.

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Escrito a partir de: a-experiencia-de-uma-artista-da-fome-patricia-tenorio-270115

Obs: A autora escreve prosa e poesia desde 2004. Tem onze livros publicados e defendeu em 17 de setembro de 2015 a dissertação de mestrado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco, linha de pesquisa Intersemiose, “O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde: um romance indicial, agostiniano e prefigural”, sob a orientação da Prof. Dra. Maria do Carmo de Siqueira Nino. Acaba de ingressar (2017.1) no Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) no Doutorado em Escrita Criativa.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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