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Nos últimos anos cresceu muito a percepção da relação entre o meio ambiente e o desenvolvimento. Para isto contribuíram as Campanhas da Fraternidade.

A clara percepção das incidências do desenvolvimento sobre o meio ambiente recebe o nome de consciência ecológica.

A gravidade da situação resultante dos muitos estragos causados pelo uso indiscriminado dos recursos naturais pelo atual modelo de desenvolvimento é identificada como crise ecológica.

As reações suscitadas diante do problema aglutinaram, em diversas partes do mundo, movimentos ecológicos, que procuram desencadear uma reflexão e ação em vista da preservação do meio ambiente e do questionamento dos modelos de desenvolvimento que se inspiram na ação predatória da natureza.

A motivação para esta atitude de preocupação com o meio ambiente pode se caracterizar como verdadeira espiritualidade ecológica, e não seria fora de propósito se falar de uma pastoral da ecologia para mobilizar a ação dos cristãos em vista da preservação do meio ambiente.

A todo este conjunto de realidades cabe, com precisão, o nome de Questão ECOLÓGICA, com suas múltiplas dimensões:

– Insere-se de cheio no novo eixo de tensões que caracteriza hoje o mundo, o relacionamento norte-sul.

– Tem uma conotação especial latino-americana pelo privilegiado potencial de biodiversidade de nosso continente.

– Constitui-se no questionamento mais amplo que se faz ao modelo de desenvolvimento ocidental.

– Pede uma nova visão teológica sobre a criação, e uma releitura bíblica do relato do Gênesis.

– Em decorrência, se faz necessária uma nova postura pastoral, com diversas incidências na Pastoral Social.

Um dos aspectos mais fecundos da ecologia é percebê-la na rica potencialidade que ela apresenta para uma nova compreensão do universo e para um novo sentido da existência humana. Nesta perspectiva, a consciência ecológica que emerge com força em nossa época é o sinal mais forte da presença de Deus que acompanha sua criação, e de dentro dela faz ouvir sua voz. Deus interpela a humanidade e a convoca para assumir a singular missão de corresponsável pelo universo. Assim a humanidade, a partir da consciência ecológica, ultrapassa os limites de sua adolescência, como criança que supera seu instinto de tudo quebrar e destruir, para sentir-se responsável a preservar e cultivar as inesgotáveis potencialidades da criação, e a identificar-se com a infinita beleza e sabedoria do Criador.

Nossa época se viu profundamente dividida em torno das questões centrais da vida humana. Sistemas opostos de organização da sociedade. Religiões fechadas sobre suas verdades. Culturas voltadas sobre seus valores. Privilegiados econômicos ignorando a miséria das multidões. Uma babel de desentendimentos. Mas eis que a questão ecológica convoca todos a olharem para a mesma direção. Para perceberem que se faz necessário um entendimento básico indispensável para a sobrevivência de todos. Todos estão dispostos a discordar de tudo. Mas em torno das questões ecológicas se faz logo um consenso nunca antes acontecido na humanidade. A ecologia coloca para a humanidade uma nova plataforma de entendimento, que é urgente valorizar.

No século passado, com o deslumbramento das descobertas científicas, muita gente concluiu de maneira precipitada que a ciência conseguia decifrar por inteiro o universo, e que não só dispensava a fé, mas a percebia como uma ilusão. Ao contrário, agora a ciência continua, sim, encantada com o universo, de tal modo que ela própria começa a postular a necessidade de não se fechar dentro dos limites alcançados por ela.

A ecologia está abrindo o caminho para o reencontro entre ciência e fé.

Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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