Rômulo Vieira 15 de abril de 2017

Caro Zumbi dos Palmares. Há alguns meses escrevi, inspirado por um discurso do então governador de Alagoas Ronaldo Lessa, imbuído de um sentimento de brasilidade, um texto intitulado: “Homens notáveis e grandes heróis” onde eu pedia desculpas ao ilustre Martins Luther King, para não ser considerado preconceituoso em termos de cidadania, para prestar uma homenagem aos nossos grandes homens de pele negra, como Castro Alves, Joaquim Nabuco dentre outros e a ti em especial. Naquele momento, eu mencionava a importância de exaltarmos tua brasilidade, porque até não muito tempo atrás ainda eras considerado como bandido. Martin Luther King já era decantado como um grande líder mundial, entretanto os nossos grandes líderes, repito, de pele negra, pouco eram lembrados. Procurei naquele texto demonstrar que a quantidade de melanina na pele não caracterizava o caráter nem a honra de um indivíduo, mas hoje, grande herói Zumbi quero te pedir desculpas, porque apesar de toda tua luta, ainda hoje se vive a escravidão no nosso país. Assim, memorável símbolo de resistência, nos inspire e não permitas persistir tanta escravidão no nosso país, se não vejamos:

Somos escravos do capitalismo. O mesmo nos atropela, nos esmaga, nos ignora, nos submete aos seus desmandos, nos desumaniza. Pelo dinheiro alguns se submetem ao ardil de outros, à hipocrisia, a assédios morais e éticos, às pessoas insensíveis e sem princípios. Pelo inescrupuloso capital às vezes esquecemos nossos valores e deixamos o vil metal tomar conta de nossas idéias e ideais. Acomodamo-nos quando vemos prevalecer o espírito de teu companheiro traidor Antônio Soares e não o teu espírito humanitário.  Recebemos mensalmente o mesmo prêmio de cinqüenta mil réis, pago pelo governador Melo e Castro ao capitão Furtado de Mendonça o teu algoz, pois matamos todos os dias sonhos de pessoas que ainda acreditam no homem, quando não praticamos a justiça, a lealdade, o respeito, a admiração o amor.

Somos escravos de políticas e políticos nefastos que fazem tudo para garantirem sua perpetuação no poder, passando de geração em geração os seus mandatos, enganando e usando continuadamente os votos comprados seja por, literalmente, dinheiro, ou por eternas promessas de melhoria para aqueles que mais precisam e renovam suas esperanças a cada período eleitoral. Esse engodo não acontece só com os “menos esclarecidos” não, grande parte da população é ludibriada e repassa seu voto para aquele mesmo político de sempre ou para os seus descendentes. E a escravatura continua.

Somos escravos das tecnologias e dos meios de comunicação. Podemos ficar horas em uma mesa “conversando” com um longínquo amigo por celular, mas não trocamos uma palavra com o amigo ao lado. Podemos ler e assistir programas horas e horas divulgando um ser imbecilizado que assume uma comissão de Direito Humanos. Alguns assistem meses e meses de BBB, mas passam a página ou trocam de canal se os mesmos apresentarem discussões dos avanços científicos, de necessidades de proteção ao meio ambiente, de solidariedade. Que país é este meu nobre Zumbi?  Não temos mais líderes, não temos mais referências, não temos mais sonhos? Volta para liderar, porque a escravatura agora não é só da cor da pele, mas do ser humano, por isso conclamamos um líder para a liberdade. Volta Zumbi.

Obs: O autor, Prof. Dr. Rômulo José Vieira é Acadêmico da Academia de Ciências do Piauí; Acadêmico da Academia de Medicina Veterinária do Piauí; Acadêmico correspondente da Academia de Medicina Veterinária do Ceará; Acadêmico correspondente da Academia Pernambucana de Medicina Veterinária.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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