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Lembranças
“Devagar, bem devagar…
Que não vá a minha sede
Não te poder alcançar
…………………………… Alvaro Moreyra

I -Águas que passam

Quando adolescente, ia com minha família fazer Estação de Águas em São Lourenço. Eram 21 dias de descanso e tratamento hidroterápico, seguindo na melhor tradição do Brasil Imperial!

Com a oportunidade dessas temporadas entramos em contato com a maior riqueza do mundo,  de cuja importância nem tínhamos consciência, naquele tempo. Não se falava ainda em Ecologia. Mas a gente sabia que era bom ver as águas maravilhosas correndo nas muitas torneirinhas ligadas às nascentes. Beber direto na fonte. Era isso!

Voltando há alguns anos ao Parque das Águas de São Lourenço, fiquei estarrecida ao verificar que as águas estão secando. E mais ainda ao encontrar os caminhos da multinacionais que se abastecem ininterruptamente no mesmo local.

Hoje, revendo meus escritos, encontro esse texto que fala da perda da ingenuidade e da conservação da esperança. Fica aqui, como forma de registrar minha estranheza à essa ganância incontrolável que destrói sem considerar as consequências para todos:

Do parque encantado só restou a lembrança do baque surdo causado pelo encontro dos barcos no cais. O resto se perdeu na aceleração de um mundo que seca fontes, ensurdece a gente com alto-falantes e faz desaparecer ruas inteiras, que outrora  foram polvilhadas de lojinhas de souvenirs ingênuos: pedrinhas, bilboquês, canequinhas de louça  e galinhos/barômetros…

Lembro que a gente corria daqui pra ali, pra aproveitar as poucas horas da manhã, em que intercalávamos infinitos copos de águas minerais de gostos e prescrições diferentes, com a descoberta de novas alamedas e com os passeios nos pedalinhos do lago, mansamente navegado, em parceria.

Às vezes acontecia de haver entre os meninos mais velhos um herói remador e então tudo ficava diferente e eterno, no élan trazido pela excitação do amor em estréia. E assim ficou, de fato, perenizado. Duram até hoje os ecos dos chamados ao longe e das canções românticas, mesmo quando eram apenas jingles que usavam heróis e heroínas famosos:

“E Josefina com o aroma
de Água Velva se emociona,
se apaixona com mais ardor…
Porque o seu novo amor usava…….
Água Velva!”

Napoleão tinha, pra nós, o status de modelo de conquistador de corações… E que conquistador!

Ainda hoje a lembrança desses momentos faz parar a respiração no meio. Essa suspensão surgida da esperança  que inaugurava a sensação maravilhosa de estar, enfim,  sendo vista como mulher…

E então, parece que daquele tempo mágico algo muito especial possa ter sido preservado. Mesmo quando tantos de nós já foram embora, mesmo quando tantos de nossos sonhos foram inúteis! (revisitando São Lourenço )20/07/02

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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