denis pois quem quer1

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Vinicius estava certo: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

Não posso ir”, “não dá, tenho o dia muito corrido”. Citamos essas frases hoje como se fossem provérbio, pra justificar nossa falta de tempo livre, nossa inabilidade em aproveitar o ócio de forma saudável, ou mesmo nossa falta de vontade em cumprir determinadas tarefas. Na Grécia Antiga, o ócio era visto como algo bom e honroso pois os ociosos (homens livres), se dedicavam somente ao conhecimento e estudo da filosofia, política e arte. É claro que, a maioria desses homens, eram ricos que contavam com seus escravos para fazerem o trabalho braçal por eles.

Hoje em dia, estar sempre ocupado é sinônimo de potência e sucesso. A nossa sociedade não encara muito bem esse tempo livre e criativo classificando-o como um ato de pessoas preguiçosas, o que muitas vezes provoca sentimento de culpa, baixa autoestima e depressão.

Nessa rotina de muitos afazeres e com dupla ou tripla jornada de trabalho, conseguir promover um encontro de pessoas que se gostam exige criatividade e flexibilidade para esculpir uma verdadeira obra de arte de agendas, horários e forte desejo de ver a quem se ama. (Imaginem a dificuldade se fosse para um encontro de inimigos!)

Mesmo sabendo que podemos ter um jeito peculiar de amar, ou, nas palavras de Cazuza, de inventar, temos inúmeras defesas psíquicas e desculpas para justificar uma realidade que dói para os que não são lembrados: que às vezes, simplesmente, a arte do encontro não foi possível porque não queremos conscientemente que ele aconteça ou porque a companhia do outro não é tão agradável para nós.

Como em muitos casos temos muita, mas muita dificuldade em dizer ou em ouvir de outro alguém que a nossa companhia pode não ser tão agradável como havíamos pensado ser, e passamos a criar teorias, valores e argumentos que convenceriam de Aristóteles a Platão de que estamos certos quanto ao que dizemos ou o porquê não sentem nossa falta.

Quem está com a mente minimamente “saudável” e deseja de verdade ir ao encontro de amigos, família ou um romance, geralmente consegue “fazer acontecer”, ou pelo menos, na maioria das vezes. Fernando Anitelli expressou de forma mais bonita: “Os opostos se distraem, os dispostos se atraem”.

Quem deseja, cria, reinventa o tempo-espaço, flexibiliza sua agenda. Eu mesmo já fiz ou presenciei casos lindos de pessoas que se esforçaram para estar na presença de alguém querido. E não estou falando daqueles encontros forçados em velórios ou aniversários de família, mas sim daquele encontro ou visita do dia comum, onde simplesmente pensamos naquela pessoa e no prazer que é estar ao seu lado, ouvir a sua voz e o que anda fazendo da vida. Algumas presenças são cargas pesadas em nossos ombros e outras são seres leves por natureza. São pessoas vestidas de abraço. A sua companhia é como se estivéssemos sentados em um sofá novo e macio: o corpo se encaixa com facilidade. Essa pessoa pode ser esposo ou esposa, namorado, avô, pai, professor, mãe, amigo, vizinho, etc.

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Em alguns momentos a razão (ainda bem que ela existe) nos alerta para não sairmos do nosso cantinho costumeiro, e ficarmos em casa protegidos. “Está tarde”, “é perigoso” ou “você está muito cansado para sair, viajar ou receber gente em casa”. Mas em alguns momentos precisamos discordar da razão, como fez Manoel de Barros, “Não gosto de dar confiança para a razão, ela diminui a poesia”. O nosso corpo não aguenta só a concretude, carece de poesia. Por isso, mesmo em dias cansativos, o encontro bom pode alegrar a alma. E no outro dia desejamos fazer tudo de novo, pois esse é um investimento poderoso em nossa saúde mental.

Ultimamente tenho pensando muito, cá com meus botões, isto é, cá com minhas neuroses: Sou um bom encontro? Sou egoísta? Ando trazendo à memória as pessoas que acho que gostam de estar perto de mim e eu delas. Tenho refletido também sobre aquelas que me ligam apenas quando estão em apuros, mas aparentemente parecem nem gostar de mim de verdade. Essas coisas são percebidas no olhar. Esperam que você seja um fornecedor para elas, onde você deve entregar o produto em suas casas, fechar o caminhão e se possível ir logo embora.

Quem quer, inventa um jeito de te ajudar. Ajudar não é sempre poder te emprestar dinheiro como alguns pensam por aí, até porque no Brasil a maioria não tem nem para si próprio. Mas é atenção investida, afeto, empatia. É claro que dá trabalho e é por isso mesmo que são poucos os amigos, amores e familiares que temos realmente ao nosso lado.

Nesse dilema contemporâneo a cerca do tempo, precisamos nos reinventar e, de vez em quando, ser mais artistas do que cientistas. Isto é, claro, se você assim desejar, pois quem quer, “dá seus pulos”.

Obs:  O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagens  enviadas pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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