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O Japão havia sido evangelizado a primeira vez em 1549 por São Francisco Xavier, companheiro de  Santo Inácio de Loyola, fundador dos jesuítas.  A ação evangelizadora teve grande êxito inicial, mas em 1597, em Nagasaki, irrompeu terrível perseguição aos cristãos, com 6 mártires franciscanos, 3 jesuitas e 17 japoneses, canonizados por Pio IX em 1862.  Ainda assim, continuou a evangelização, chegando a contar em 1614 com cerca de 300 mil cristãos. Neste ano, o Imperador Togugawa, instigado pelos bonzos budistas, com grande influência na corte, emanou um decreto de total expulsão de todos os missionários católicos e uma feroz perseguição aos cristãos. Em 1622, deu-se o conhecido grande martírio de Nagasaki. Vi lá o belo monumento que recorda em alto relevo as figuras de todos os mártires dessa perseguição.

Hoje, (dizia eu naquela época, mas válido ainda agora) o  problema pastoral de maior relevo para a evangelização dos brasileiros é a exclusiva preocupação dos “dekasssekis”  de juntar dinheiro para mandar para sua família no Brasil. “Dekasseki” é todo aquele que emigra em busca de trabalho. Os brasileiros trabalham demais  e ganham muito. Normalmente – ao menos com as famílias brasileiras com as quais falei – trabalham onze horas por dia, das 8 às 20, marido e mulher, com intervalo de 1 hora para o almoço. Oito horas legais e 3 horas extras. Daí se vê a produção das grandes fábricas japonesas e os espetaculares lucros obtidos por elas. O salário médio do trabalhador era – quando eu estava lá –  em torno de 2,9 mil dólares americanos. A vida é caríssima. Tóquio é considerada a cidade de vida mais cara do mundo. Uma passagem no shinkansen, o maravilhoso trem-bala, de 1 hora e 25 minutos, na 2ª classe, custa 5.980 yenes, o que seria (na época em que eu estava lá) algo em torno de 178,50 reais.

Eram 260.000 os brasileiros no Japão, espalhados em quatro províncias,  quando lá estive.  Na paróquia do Pe. Evaristo Higa, brasileiro, extraordinariamente eram 35.000. Os católicos significavam então apenas 0,4% da população japonesa e a ação missionária fica difícil pelas profundas diferenças culturais da Ásia em relação à Europa e à América do Sul.

Quando se aproximou o tempo de meu retorno ao Brasil, fui com um padre salesiano de nossa comunidade, argentino, que falava fluentemente inglês e japonês tratar com um seu amigo, da Prefeitura de Iokohama. Ele me perguntou se eu queria ficar mais três meses no Japão. Acontece que eu tinha um  tal encontro nacional da juventude em Curitiba e, como era responsável pela pastoral da  juventude no Regional Nordeste 2, o bispo referencial, como se chama  agora, disse-lhe que só podia ficar mais um mês. Até hoje me arrependo dessa escolha, porque a tal reunião não teve a mínima importância e apenas tive a oportunidade de conhecer um grande mariólogo, Frei Clodovis Boff, dos Servitas de Maria, que autografou seu precioso livro “Introdução à Mariologia”, que conservo com grande carinho. Por favor, não confundir com seu irmão, ex-franciscano, ex-padre e etc.

Na viagem de volta, o avião fez uma parada em Nova York no dia 11 de setembro, que era o 2º aniversário do bombardeio das Torres Gêmeas. Aí se pode imaginar o rigor da revista policial no aeroporto…

(Texto retirado de “Novas Memória Salesianas de um Velho Arcebispo”)

Obs: O autor é  arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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