Como ele mesmo costuma brincar
Foi só mais uma visita de médico
Ou pelo menos era pra ser.
Mas a porta estava levemente fechada
E um silêncio carregado de apreensão.
Repeti o ritual como de costume
Chamando-o sem obter resposta.
Apressei-me para entrar
E desvendar o porquê da calmaria.
Chamei-o repetidas vezes
Até ouvir um gemido de dor e fraqueza.
Abri a porta e lá estava ele
Deitado em sua humilde rede
Com olhar perdido
E sem poder balbuciar
Ao menos uma palavra.
Sua reação não foi de alegria,
Parecia envergonhado
Com tanta dor.
Uma tristeza comovente
Decorrente de uma solidão
Assistida apenas
Pelos objetos que o rodeavam.
Fui fazendo perguntas àquele homem
Que me respondia
Com leves acenos de cabeça
E um esforço enorme
Para tentar falar
E talvez comentar de sua dor física
E sentimental
Por estar ali sozinho
Preso ao tempo
Sem condições de admirar
Seu amplo quintal.
Sentei-me abatido
Sentindo uma impotência torturante
Vendo tal situação
E sem poder ajudar para sarar a dor.
Vi suas lágrimas brotando disfarçadamente
Afirmando que a dor era insuportável.
Decidi sair pela necessidade funcional do trabalho
Sem antes olhar para aquele homem
E lembrar que aquele homem era o meu PAI
Que agora se encontra “sozinho”
Com sua dor tamanha
Que o faz chorar.
Saí e chorei em silêncio
Sentindo outro tipo de dor
E uma solidão me atormentando,
Procurando razões ou respostas…..
Obs: O autor é Professor da Rede Pública Municipal de Santarém.
Graduado Pleno em Pedagogia pela UFPA. Técnico em Educação na Rede Estadual. Especialista em Ciências Sociais para o Ensino Médio e autor do livro – Brinquedo: Contos e Poesias.