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(Retalhos do Quotidiano)
Nossa maneira de representar Deus é sempre analógica. Só podemos falar d’Ele enquanto falamos de nós. Procedemos por semelhanças e imagens. Assim se faz por toda a Bíblia; assim falava Jesus: “O Reino de Deus se assemelha a…” Decerto, imagens são perigosas, podem pretender-se “ídolos”, na verdade, somos nós feitos deuses. É, porém, o único que temos para “pintar” as muitas faces da Transcendência. De qualquer forma, tem de ser assim, porque a Transcendência está, de fato, em nós, no maravilhoso fenômeno que é nossa liberdade.
A Deus aplicamos em sumo grau algo do que experimentamos e concebemos de nós e do mundo, algo que achamos em nós. Mas o próprio mundo – e nós mesmos(as) – não se dá a nós diretamente, nosso encontro com ele e conosco sempre acontece pela mediação da sociedade e da cultura em que estamos inseridos(as).
Ora, se é assim, grande parte do que dizemos de Deus depende do tipo de sociedade e de cultura em que vivemos. Não passam de projeção (Feuerbach, Marx e Freud tinham boas razões).O mesmo se diga da moral e da própria imagem que formamos do mundo. Neste quadro, para manter Sua transcendência, Deus precisa aparecer-nos (assim como a Ética) sobretudo como “horizonte” sem face definida ou limitada, mas com a força de meter em crise o presente, o “real”, e “chamar à existência coisas que não são” (Rm 4. 17),”escolher o que não é, para reduzir a nada o que é” (1Cor 2, 28). Quem é autoridade nisto são os pobres, aqueles e aquelas que são mendigos, é verdade, mas de olhos abertos (cf. Jo 9; veja neste blog meu comentário ao texto: “Da Cegueira à Visão).
Roma, 09. Maio, 1972
Obs: O Autor é Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB….
Imagem enviada pelo autor.